Monthly Archives: Dezembro 2013

«Marcelo no Mundo Real», de Francisco X. Stork

Marcelo Sandoval tem 17 anos e sofre de uma perturbação similar ao Síndrome de Asperger, uma forma de autismo, e por isso perceciona o mundo e interaje com ele de maneira diferente. Deste modo, frequenta uma escola para alunos com necessidades especiais e mantém um círculo de amigos restrito, colegas que o conhecem bem e sabem lidar com ele. Interessa-se muito por religião, o seu assunto favorito, e ouve música que mais ninguém consegue ouvir – é a sua forma de processar emoções e sentimentos.

Arturo, o pai de Marcelo, sente-se frustrado por o filho  se isolar socialmente e não ser «desafiado» no dia-a-dia. Assim resolve que Marcelo tem de se expor mais para aprender a lidar com os desafios do «mundo real», e para isso recruta-o para trabalhar no seu escritório de advogados durante o verão. Marcelo, claro, não fica nada contente, pois tudo o que ele queria era trabalhar nos estábulos a cuidar dos cavalos.

A história é-nos contada do ponto de vista de Marcelo. Através do seu modo particular de ver o mundo e de interagir com as pessoas, descobrimos o impacto que o Asperger tem na sua vida, principalmente o preconceito de que é alvo ao ser olhado como alguém diminuído intelectualmente, o que não podia estar mais longe da verdade. A entrada de Marcelo no «mundo real» não é fácil, confrontando-se com pessoas muito diferentes daquelas a que estava habituado. Aos poucos, com a ajuda de novas amizades, umas boas, outras más, ele vai aprendendo a lidar a sua nova realidade e a sair da bolha protetora que criara à sua volta, mas sempre com a perspetiva de voltar para a antiga escola e de trabalhar nos estábulos, contudo o pai não tem intenção de o deixar voltar à sua antiga vida. Marcelo experimenta sentimentos novos de angústia, ciúme, raiva, descobre o amor, a traição, a coragem.

Uma leitura curiosa e que desconstrói um pouco o mito à volta de uma pessoa que sofre de uma forma mais ou menos leve de autismo. No entanto, trata-se de uma história com que todos nos identificamos – a do «peixe fora de água», do adolescente a entrar no mundo dos adultos, a da descoberta do amor e da amizade, e, fundamentalmente, da descoberta de si próprio e das suas capacidades para lidar com o «mundo real».

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As recomendações de James Patterson

James Patterson, o criador de séries como Maximum Ride e Escola (editado pela Booksmile, em Portugal), já escolheu aqueles que são para si os melhores livros para miúdos do ano. Entre as suas escolhas encontram-se Escape From Mr. Lemoncello’s Library de Chris Grabenstein, The Fifth Wave, de Rick Yancey, e The Sasquatch Escape, de Suzanne Selfors. Estes livros também têm aparecido noutras listas semelhantes e sem dúvida que parecem interessantes!

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O «Best of 2013» de Carla Maia de Almeida

Carla Maia de Almeida publicou no seu blogue O Jardim Assombrado a sua selecção dos melhores livros infantis e juvenis do ano editados em Portugal, cada escolha justificada com um pequeno argumento. Entre os livros juvenis encontramos Portugal Lendário, de José Viale Moutinho, A Verdadeira História do Capitão Gancho, de P.D. Baccalario, e Pippi das Meias Altas, de Astrid Lindgren.

 

«The New York Times» escolhe os livros para crianças do ano

Aproveitando a passagem por Nova Iorque no artigo anterior, continuo o périplo pela terra do Tio Sam: o Sunday Book Review do jornal The New York Times já divulgou a sua seleção dos melhores livros do ano de 2013 para a categoria de livros infantis e juvenis. Entre os escolhidos para a faixa etária dos «jovens adultos» estão Eleanor & Park, de Rainbow Rowel, e Fangirl, da mesma autora, duas obras que têm recebido muito boas críticas no meio literário, a primeira das quais até foi alvo de polémica quando o livro foi banido do programa de leitura de uma escola americana por conter linguagem considerada ofensiva.

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Na categoria de livros juvenis, encontra-se um livro da Kate DiCamillo, autora de A Lenda de Despereaux, intitulado Flora and Ulysses: The Illuminated Adventures, em que um esquilo se transforma num improvável super-heróis depois de um bizarro acidente com um… aspirador.

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A lista completa encontra-se aqui.

«Books of Wonder», Nova Iorque, EUA

A montra da livraria «Books of Wonder» tem um aspeto clássico, quase dickensiano, e para aqueles que gostam de fantasia, remete para aquelas lojas na Diagon-Alley, dos livros da saga Harry Potter. Aberta desde 1980, fica em Nova Iorque, no coração de Manhattan, não muito longe da Quinta Avenida. Pelo que se pode observar pelas fotografias é uma livraria grande, com uma seleção enorme de livros divididos por faixas etárias, desde o nascimento, à infância, à adolescência e aos «jovens adultos». Vendem coleções e edições raras de livros infantis e têm uma grande galeria onde realizam exposições de ilustração infantil. Todos os domingos, depois de almoço, têm a hora do conto. Lá dentro da livraria, há ainda uma pequena lojinha de cupcakes que parece ser uma perdição!

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Literatura juvenil, literatura menor?

Certamente que sou suspeita, mas impressiona-me quando alguém fala de literatura juvenil como se fosse algo menor, como se fosse apenas para um escritor que não tem ainda «estofo» para escrever literatura para adultos se iniciar na escrita e então depois passar para horizontes maiores, ou como se fosse só uma «merecida pausa» de um romancista já estabelecido. Diminuir o género é diminuir o seu público-alvo, é subestimar as crianças. Julgo que seja porque se confunde muito simplicidade com simplismo. Os livros para crianças são, claro, mais simples, porque os leitores mais jovens ainda estão a aprender a ler, a apreender conceitos, mas isso não quer dizer que as histórias tenham de ser simplistas, desprovidas de sentimentos complexos, de enredos ligeiramente obscuros. Quem escreve para crianças e tem contacto com os seus leitores sabe que elas são capazes de captar até os sentimentos mais subtis das personagens e ideias que nem o autor imaginou. Tive essa experiência nas minhas idas às escolas e em conversas com alunos, em que eles me diziam coisas sobre aquilo que tinham retirado da leitura dos meus livros, que ou me comoveram ou me fizeram rir às gargalhadas, coisas que por vezes passam completamente despercebidas aos adultos.  A literatura juvenil não deixa de ser literatura, escrita com cuidado, talvez até mais rigorosa do que a escrita para adultos, com atenção redobrada à linguagem, aos enredos, às personagens e às relações entre elas. É literatura maior, porque é fundamental para a literacia infantil  e poderá criar bases importantes para o desenvolvimento da criança, tanto a nível intelectual como emocional.

«Mother and child» Pintura de Frederick Warren Freer
«Mother and child»
Pintura de Frederick Warren Freer

A importância de ler um livro impresso

Desde que surgiram os dispositivos eletrónicos de leitura que se questiona o impacto que estes têm no cérebro, principalmente no da criança, ainda em desenvolvimento. Encontrei no The New York Times um artigo em que um cronista descreve a sensação de pegar num livro impresso após anos a ler em dispositivos eletrónicos. Eis a conclusão a que chegou.

Emissão de rádio dedicada à literatura infantil e juvenil

O Quebeque, no Canadá, tem uma emissão de rádio dedicada exclusivamente à literatura infantil e juvenil – a Contes de Faits – e que é também um magazine web.  No sítio da emissão, encontram-se todo o género de informações sobre livros, autores, e contém também crónicas, e contos que se podem ouvir. Uma iniciativa de promoção da leitura e do livro que se estende da rádio à internet.

Novidades e prendas para o Natal

No Natal os brinquedos são o presente por excelência para os miúdos, rapazes e raparigas. Mas a partir de certa altura começam a interessar-se por outras coisas e os brinquedos ficam para segundo plano, ou deixam mesmo de fazer parte da lista. As consolas, os videojogos, os gadjets ganham um lugar de destaque nas preferências dos pré-adolescentes e adolescentes. Mas também se pode aproveitar um pouco da sua curiosidade sempre maleável para oferecer algo que salte fora da caixa e apele ao seu sentido mais prático e criativo ou sonhador, como um livro.

A primeira das minhas sugestões é um livro sobre ciência:

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«Um livro para abordar as primeiras noções científicas de um modo concreto e lúdico através das 50 experiências propostas. Fáceis e divertidas, para fazer sozinho, com amigos ou em família, estas experiências relacionam-se com temas tão variados como a água, as plantas, os animais, o corpo humano, o espaço.» Mais aqui.

Quando era miúda adorava dinossauros, por isso se tem um petiz que adora animais pré-históricos, ele irá certamente delirar com este livro:

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«Esta é a enciclopédia que reúne, num único volume, tudo o que precisas de saber sobre dinossauros: espécies, características, habitats, alimentação. Mais de 500 ilustrações;  Organização por ordem cronológica e em cinco capítulos; Informações, factos surpreendentes, perguntas, vocabulário e atividades criativas.» Aqui.

A Porto Editora tem ainda uma coleção de clássicos de referência da literatura infantil que vale a pena explorar. Nela encontram-se histórias de Matilde Rosa Araújo, Manuel António Pina, Guerra Junqueiro, Eugénio de Andrade, Oscar Wilde. Ver aqui a coleção completa.

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Passando então à literatura, da Civilização Editora chega-nos uma coleção de aventuras, da autora Helen Moss, comparada a Enid Blyton. Chama-se A Ilha da Aventura e cá já se encontra editado o segundo livro.

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«Quando o Scott e o Jack Carter têm de ficar com a sua tia-avó durante o verão, preparam-se para as férias mais aborrecidas de sempre. Mas depois conhecem a Emily e o seu amoroso cão, o Drift. A Emily mostra-lhes o farol, o castelo – e as fantásticas grutas dos assobios. Segundo a lenda, quando as grutas pararem de assobiar, o castelo será atacado – e é exatamente isso que acontece! São roubados tesouros incalculáveis e a Emily e os rapazes estão determinados a investigar o caso. Como é que o tesouro foi roubado do castelo? Porque é que as grutas deixaram de assobiar? Será que os três amigos vão conseguir resolver o mistério a tempo de apanharem o ladrão? Esta é a primeira de uma nova séria de emocionantes aventuras – com muitos mistérios para descobrir!» Daqui.

 

A Arteplural, e num conceito que nos faz lembrar a saudosa coleção Aventuras Fantásticas, apresenta, por sua vez, Caçadores de Tesouros, de Ivan Babiano Nieto.

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«O teu tio arqueólogo propõe-te partires com ele este verão em busca de um tesouro, mas primeiro têm de perceber onde poderá ele estar: na selva mexicana ou numa mina em África? Nas galerias de uma pirâmide egípcia ou num vulcão em pleno Camboja? Se quiseres descobrir, faz a mala e embarca nesta viagem. O teu destino depende das tuas decisões. O caminho que escolheres poderá conduzir-te a um tesouro antigo, oculto durante séculos e que guarda segredos terríveis. Escala um vulcão na página 14 ou atravessa um lago cheio de crocodilos na página 22. Na pirâmide do Sol, escolhe entre a eterna juventude na página 12 ou a riqueza infinita na página 20. Detém sozinho os ladrões na página 63 ou com a ajuda de um elefante na página 107.» Aqui.

Em Jovens Heróis Extraordinários, de Michelle Roehm Mccann, da Sinais de Fogo, conhecem-se histórias reais de rapazes que se destacaram no mundo, vindos das mais variadas origens e meios sociais.

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«De Tutankamon a Nelson Mandela, de Mozart a Picasso, de Will Smith a Mark Zuckerberg ou Cristiano Ronaldo, todos realizaram feitos extraordinários com o seu talento, perseverança e desejo de mudança, permitindo-nos ver o mundo de forma diferente.» Não encontrei o livro no sítio da editora, pelo que remeto para aqui.

Diário de Sofia & C.ª aos 15 anos, de Luísa Ducla Soares, editado também pela Civilização, é um livro que poderá interessar aos jovens mais crescidos.

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Nesta história «Sofia (nome de código) é uma rapariga de 15 anos que recebe um diário como prenda de aniversário. “Que seca!”, pensa ela… Mas num dia de chuva em que não lhe apetece estudar, descobre o diário e resolve estreá-lo. Quem sabe se um dia não será uma pessoa famosa e o seu diário um tesouro valioso? Fica a conhecer o mundo de Sofia & C.ª – a sua família, colegas e amigos – e poderás descobrir que tens muito em comum com ela!» Mais aqui.

E, por fim, acabadinho de sair para os escaparates, o décimo quarto volume da coleção Os 7 Irmãos, de Maria João Lopo de Carvalho e Margarida Fonseca Santos, intitulado Mónica e Mariana – Irmãs e Rivais?.

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«Aproxima-se o Natal, tempo de paz, tempo de família. Porém, é precisamente no Natal que a Mónica e a Mariana se zangam de verdade. O feitio tranquilo e alegre da Mónica não encaixa nada bem nas «marianices», por vezes umas a seguir às outras… Contudo, as “ideias geniais” da Mariana são tão imaginativas que nos põem a pensar: afinal, o que fazemos nós para tornar a vida da nossa vila e da nossa família mais bonita e solidária? E que tal se todos contribuíssemos com um pequeno gesto, um enfeite, um texto bonito num blogue, uma surpresa? Se querem ficar a saber de que modo a Mariana “acendeu” uma GRANDE luz de Natal em Vale de Nabais; se querem conhecer o novo vizinho que tanta tempestade causou nos corações “quase geométricos” das duas irmãs, leiam esta GRANDE história! GRANDE, sim, gigantesca! Mas nada que se compare à ideia da Mariana… Apostamos que a palavra “GRANDE” vos vais fazer abrir um GRANDE sorriso!!! Vamos a isso?» Para saber dar um saltinho aqui.

Noel Streatfeild, a autora dos sapatos

No filme Você Tem uma Mensagem (You’ve Got Mail, 1998), de Nora Ephron, com Tom Hanks e Meg Ryan a encarnarem os papéis de, respetivamente, um empresário de um grupo de livrarias e de uma livreira independente, a certa altura, uma desgostosa Kathleen Kelly (Meg Ryan), após ter encerrado definitivamente a sua livraria infantil, encontra-se sentada num sofá da mega-livraria do seu arquirrival (e, sem saber, o seu amor secreto), quando um cliente pergunta a um funcionário por uns livros infantis de sapatos. O funcionário pisca os olhos, sem saber ao que a cliente se refere, perguntando-lhe quem é o autor. A cliente não sabe responder, sabe apenas que lhe recomendaram uns livros sobre sapatos para a filha. Então, Kathleen intervém, com o nome da autora na ponta da língua – Noel Streatfeild –, e acrescentando o nome do livro – Sapatos de Ballet – e que há mais livros na série, mas que um deles está esgotado. O funcionário mais uma vez pisca os olhos, perguntando-lhe como se soletra o nome da autora, numa crítica muito óbvia à ignorância das pessoas contratadas para trabalhar num sítio que trata os livros como se fossem «garrafões de azeite».

O nome da autora ficou-me na cabeça e há pouco tempo descobri que o livro mencionado no filme havia sido editado em Portugal. Em 2006!

NPG x24264; Noel Streatfeild by Howard Coster

Noel Streatfeild é uma autora inglesa, nascida na véspera de Natal de 1895. Trabalhou dez anos como atriz antes de se dedicar à escrita. Sapatos de Ballet foi o seu primeiro livro editado. Em 1938 ganhou o Carnegie Medal por Circus Shoes (Sapatos de Circo), o terceiro volume da série dos Sapatos. Noel faleceu em 1986.

Para saber mais sobre a autora podem visitar a sua página aqui.

Da série dos Sapatos constam ainda Tennis ShoesTheater Shoes, Party Shoes, Movie Shoes, Skating Shoes, Dancing Shoes, Traveling Shoes. O que estes livros e outros da autora têm em comum é o facto de lidarem com as dificuldades com que as crianças se deparam no começo de carreiras em artes.

Em Portugal, foi a Aletheia que editou Sapatos de Ballet. Nesta história, «Pauline, a única sobrevivente de um naufrágio, Petrova, órfã de um casal russo, e Posy, filha de uma bailarina, já sabem o que querem ser quando crescerem: Pauline quer definitivamente ser atriz, Petrova só gosta de brincar com carros e motores e Posy se pudesse dançava todo o dia! Mas unidas pelo intrigante desaparecimento do seu tutor as meninas acabarão por partilhar um futuro inebriante em palco, onde todos os seus sonhos e receios rapidamente se tornarão realidade…»

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O livro foi recentemente adaptado a telefilme, pela BBC, com Emma Watson, mais conhecida por Hermione Granger, nos filmes do Harry Potter, num dos papéis principais. Clique aqui para ver o trailer.

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