Certamente que sou suspeita, mas impressiona-me quando alguém fala de literatura juvenil como se fosse algo menor, como se fosse apenas para um escritor que não tem ainda «estofo» para escrever literatura para adultos se iniciar na escrita e então depois passar para horizontes maiores, ou como se fosse só uma «merecida pausa» de um romancista já estabelecido. Diminuir o género é diminuir o seu público-alvo, é subestimar as crianças. Julgo que seja porque se confunde muito simplicidade com simplismo. Os livros para crianças são, claro, mais simples, porque os leitores mais jovens ainda estão a aprender a ler, a apreender conceitos, mas isso não quer dizer que as histórias tenham de ser simplistas, desprovidas de sentimentos complexos, de enredos ligeiramente obscuros. Quem escreve para crianças e tem contacto com os seus leitores sabe que elas são capazes de captar até os sentimentos mais subtis das personagens e ideias que nem o autor imaginou. Tive essa experiência nas minhas idas às escolas e em conversas com alunos, em que eles me diziam coisas sobre aquilo que tinham retirado da leitura dos meus livros, que ou me comoveram ou me fizeram rir às gargalhadas, coisas que por vezes passam completamente despercebidas aos adultos. A literatura juvenil não deixa de ser literatura, escrita com cuidado, talvez até mais rigorosa do que a escrita para adultos, com atenção redobrada à linguagem, aos enredos, às personagens e às relações entre elas. É literatura maior, porque é fundamental para a literacia infantil e poderá criar bases importantes para o desenvolvimento da criança, tanto a nível intelectual como emocional.

Pintura de Frederick Warren Freer