Monthly Archives: Fevereiro 2014

Margarida Fonseca Santos, escritora de fantasia e da vida real

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Margarida Fonseca Santos nasceu em Lisboa a 29 de novembro de 1960. Formada em Música, deu aulas em várias escolas, nomeadamente na Escola Superior de Música de Lisboa entre 1990 e 2005. Em 1993 descobriu o gosto pela escrita e desde então tem-se dedicado à criação de histórias, como autora e como formadora.  Escreve para crianças e já se aventurou no romance e no teatro. Dedica também parte do seu tempo a ensinar os outros a escrever histórias, através de oficinas, ateliês e cursos. Um dos seus projetos mais queridos, segundo a autora, é o histórias em 77 palavras. É atualmente um dos autores de literatura juvenil mais prolíficos do nosso país.

Recebeu o Prémio Revelação APE/IPLB, em 1996, por Uma Pedra sobre o Rio. Nesse ano ganhou também o Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca, por O Degrau de Cima. Foi galardoada ainda com o Prémio Novela Manuel Teixeira Gomes, com O N.º 11, e distinguida em 2013 com uma Menção honrosa no Prémio Orlando Gonçalves, pela obra Fragmentos.

A sua obra juvenil vai desde a fantasia, com O Reino de Petzet, às aventuras que assina com Maria João Lopo de Carvalho, em os 7 Irmãos, ou com Maria Teresa Maia Gonzalez, em As Aventuras de Colombo. Margarida não teme escrever sobre assuntos mais sensíveis como o bullying, em Uma Questão de Azul-Escuro, ou a homossexualidade, em Saber ao Certo.

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Conheci a Margarida numa Feira do Livro de Lisboa, faz muitos anos. Eu tinha acabado uma sessão de autógrafos e a Margarida era a seguir, na mesa da Editorial Presença. Ou terá sido ao contrário? Já não me lembro, foi há quase dez anos. Brincou comigo e desejou-me sorte, é tudo o que consigo recordar. Mas os anos foram passando e por motivos profissionais cruzámo-nos várias vezes e posso dizer que é a autora mais sensata, mais versátil, e dada que conheço. Não que conheça muitos autores, mas é sem dúvida um privilégio tê-la conhecido pessoalmente.

Numa iniciativa que estava a organizar, mas que infelizmente não se chegou a concretizar, fiz uma pequena entrevista à autora e que publico aqui:

«Como está, para si, a literatura juvenil em Portugal?
Penso que está a evoluir, de forma discreta, mas a ficar mais diversificada, tanto nos temas como nos autores, podendo com isso chegar a mais jovens. Há quem pense que só se deve ler determinados livros, eu não me associo a essa ideia. O importante é ganhar o hábito de leitura, o prazer infinito da leitura. Pode ser com contos, romances, de géneros diferentes, mas a prioridade é trazer os jovens para a leitura.

Parece-me que cá a literatura juvenil não goza de tanta atenção como a infantil. Concorda?
Sempre foi assim, é difícil qua não seja… Acho que a primeira razão tem mesmo que ver com a implicação dos pais na leitura. Quando as crianças são mais pequenas, as famílias investem no «contar histórias» (infelizmente não tanto como seria desejável), nos livros. Quando os jovens começam a ter outras solicitações (e são muitas!), os livros e a leitura começam a perder-se. Também é verdade que, para muitos, a perda da ilustração é desmotivadora.

Por haver tanta diversidade, às vezes os pais também têm dificuldade em saber que livros dar a ler aos filhos pequenos e jovens… O Plano Nacional de Leitura desempenha um papel importante nesse aspecto, mas será que está a consegui-lo? Ou que alguma vez atingiu esse objetivo?
Penso que o Plano Nacional de Leitura desempenha um papel importante, basta ver como se foram implementando atividades e como a leitura cresceu. Penso que isso é evidente, o que quer dizer que se atingiram objetivos. Por vezes, há livros que ficam em faixas etárias diferentes daquelas que foram pensadas pelo escritor. Talvez fosse mais interessante pedir ao escritor a sua ideia em relação a cada livro, acabando com essas dissonâncias que, a meu ver, só desprestigiam o plano. O maior objetivo a ser alcançado, e calculo que propositadamente, é essa base de dados disponível para todos, não só para as escolas, permitindo que se conheça melhor o que há disponível para determinada idade, tema, etc.

Considera que o ensino dá espaço suficiente à leitura?
Nem sei bem o que responder. Depende sobretudo dos professores. Há pessoas apaixonadas pela leitura e que, ao falar dessa paixão, contagiam os seus alunos. Para outros, o importante é uma normalização de uma interpretação que, a meu ver, retira a verdadeira potencialidade da literatura – ter tantas leituras como leitores! Por fim, penso que há outra falha que se reflete na leitura – a falta de tempo para escrever. Tem sido, para mim, uma batalha constante, pois sei que quem escreve e pensa nas palavras tem muito mais curiosidade pela leitura. É preciso gostar de escrever, não para ser um escritor, mas para ser uma pessoa mais completa.

O que acha da organização, na generalidade, das visitas dos autores às escolas?
Pergunta difícil… Na maior parte das vezes, mas não numa esmagadora maioria, a organização foi a correta: existe a leitura em sala de aula de textos do autor, organizam-se entrevistas (não estanques, abertas), fala-se do que se leu e dos porquês dos assuntos, das opções, das particularidades do livro. Quando corre mal, existem sempre pressupostos errados: que o autor tem de estar com todos os alunos (e não só com os que leram), que vamos às escolas promover os nossos livros (errado, vamos conversar com os nossos leitores), que não é preciso ler nada, pois o autor é que os deve seduzir para os seus livros. E sinto que os professores estão muito cansados, sem esperança, e que isso altera a disponibilidade para preparar visitas de escritores ou ilustradores. Infelizmente, é compreensível que se sintam assim.

Talvez isso aconteça também porque não existe da parte do Estado um programa de incentivo específico que promova a visita de autores, de ilustradores, de editores, às escolas, com linhas orientadoras… Acha que isso podia ajudar?
Essa pergunta levar-nos-ia muito longe… Aquilo que vejo, e é uma opinião pessoal, é que, assim que começaram os agrupamentos, os mega-agrupamentos, perdeu-se a individualidade de cada escola. Nesta corrida à poupança de recursos, desapareceu o espaço para se trabalhar com tranquilidade, na realidade da escola em si. O objetivo é poupar, não me parece possível existir essa ajuda.

Conte-nos uma situação que tenha vivido numa visita a uma escola e que tenha sido particularmente marcante.
Houve duas, que recordo com muita emoção.
Uma delas foi acerca do livro Encruzilhada no Tempo. Fui recebida com imenso carinho e a professora disse-me que iam começar por fazer um teatro. Achei estranho, pois o livro tem saltos de mais de cem anos e é ligado por uma metáfora, dentro de um livro, que as duas personagens principais têm em comum. Quando começou, entendi: estavam a fazer, sem texto, a representação da metáfora, um espectáculo lindíssimo! As lágrimas começaram logo a escorrer, e até houve um aluno, sentado ao meu lado na plateia, que comentou para o do lado: ela não deve estar a gostar, está farta de chorar! Quando acabaram, estava incapaz de falar. Tivemos de fazer um intervalo, depois começar pelas perguntas secas (quando começou a escrever?, quantos livros já publicou?, essas coisas) e só depois consegui falar e agradecer o que me tinham oferecido.
Numa outra escola, uma das turmas estava atrasada e a professora (uma pessoa incrível) sugeriu aos alunos que começassem já a pedir os autógrafos nos livros. O primeiro que veio agradeceu-me o livro. Comovi-me. Depois, a segunda, abriu o livro dela para me mostrar a parte de que mais gostara. E assim sucessivamente, sem ensaio prévio, foi espontâneo, uma necessidade. Tinham lido o meu livro preferido, O Aprendiz de Guerreiro. Chegaram os outros, interrompemos os autógrafos, começou a conversa. Foi tão intensa, tão recheada de perguntas direitas ao coração e à vida, que muitas vezes me comovi. Por fim, um rapaz, no topo do auditório, disse: “Posso dizer uma coisa? Acho que falo por todos. Obrigada por ter escrito este livro e por ter conversado connosco. Acho que aprendemos consigo que podemos ter esperança e seguir os nossos sonhos.” Dessa vez, não fui só eu a chorar, a professora também não aguentou…

Outra pergunta difícil: disse que o seu livro preferido era O Aprendiz de Guerreiro. Pode contar-nos porquê?
Nada difícil! Há fases na vida em que, de repente, tudo muda, nos assusta, nos faz sofrer. Como já disse antes, comecei nessa altura a escrever, mas não só. Para lidar com os meus dias e poder reconstruir uma felicidade, aprendi a meditar, a fazer treino mental, a estudar a mente. Para mim, tudo isto é fascinante. Valores como amizade, solidariedade, respeito, e por aí fora, precisavam de sair para o papel. Surgiu então a colecção O Reino de Petzet (podemos incluí-la no género fantástico) onde falo destas ferramentas, desses valores e de como se pode mudar a nossa vida. Levei muito tempo a conceber a história, a pensar onde diria o quê, enfim, foi escrita em total clandestinidade, nenhum editor sabia dela. Estruturei os três livros, comecei a escrever. O Aprendiz de Guerreiro foi o primeiro, e talvez por isso tenha ficado sempre como o preferido. Por causa desta colecção, fiquei com grandes amizades com leitores (jovens e adultos!), o que me deixa mesmo feliz. Foram agora reeditados, tem sido uma redescoberta. E a verdade é esta: quando estou a fraquejar, leio-os, faz-me bem!»

Não deixem de visitar a página oficial da Margarida Fonseca Santos, com muito mais pormenores sobre toda a sua obra e as atividades que desenvolve aqui.

Philip Pullman escreve história no twitter

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Começou por ser uma brincadeira por não saber o que publicar na sua recém aberta conta do twitter (www.twitter.com/philippullman), mas acabou por ganhar seguidores e a história continuou, com reviravoltas, momentos de suspense, e tragédia também. Pullman conta-nos as aventuras de Jeffrey, a mosca. Jeffrey apaixona-se por uma joaninha, mas tudo muda quando conhece uma vespa que toca numa orquestra sinfónica, a Madame Vespucci.
Philip Pullman, autor de vários livros juvenis, entre os quais a trilogia His Dark Materials, tem estado a escrever o The Book of Dust, um romance passado no universo de Lyra Belacqua.

 

 

Tendências no YA

Nos últimos meses tenho reparado no design adotado pelas editoras para os livros destinados aos «Jovens Adultos» ou melhor jovens adultas ou melhor adolescentes. Letras grandes que ocupam quase toda a capa e colocadas de lado para dar torcicolos aos leitores ou talvez para exercitar o pescoço.
Passe esta nota, alguns destes livros, como o The Winner’s Curse e o Half Bad, estão a ter críticas antecipadas muito positivas.
A história de Half Bad, de Sally Green, uma escritora estreante tal como Marie Rutkoski (The Winner’s Curse) e Kasie West (Pivot Point), só por si provocou um buzz estrondoso no meio editorial:  dois dias após a autora ter submetido o seu original para apreciação foi logo aceite por um agente e os direitos para publicação adquiridos por um editor. Nos dias seguintes os direitos foram sendo vendidos para vários países, tendo já a autora alcançado também um acordo para a adaptação da obra ao cinema. O livro sai no dia no dia 3 de março, na Inglaterra.

A história é contada com mais pormenores aqui.
Tudo sobre cada um destes livros aqui, aqui e aqui.

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«Mar» distinguido em Bolonha com menção honrosa

O livro Mar, de Ricardo Henriques, com ilustrações de André Letria, é da Edições Pato Lógico, e a menção é relativa ao Prémio Bologna Ragazzi 2014 na categoria de Não Ficção. Esta não é, contudo, a primeira distinção que o livro recebeu: teve umamenção no Prémio Nacional de Ilustração de 2013, recebeu o Prémio Junceda Ibéria 2013 e o de Melhor Design na Categoria Infanto-juvenil dos Prémios LER/Booktailors.

Os criadores do livro chamam-lhe actividário, uma junção entre um caderno de actividades e um abecedário.

De um azul a fazer lembrar um mar paradisíaco, e com um design sóbrio, simples, mas cheio de subtilezas, o livro é lindo de se folhear como se pode verificar através do vídeo de apresentação.

Daqui.

A livraria «The Book Hive», Inglaterra

Localizada em Norwich, esta livraria, apesar de não ser exclusivamente infantil e juvenil, apresenta uma secção bastante grande dedicada aos livros para crianças e jovens, com uma decoração muito acolhedora. Ocupando três andares, a livraria faz uma esquina arredondada, com montras decoradas a preceito. Pouco depois de abrir em 2009 foi distinguida com o prémio de Melhor Pequena Livraria do Reino Unido pelo jornal The Daily Thelegraph, e desde então tem sido nomeada para vários prémios relacionados com livrarias. O sítio oficial deles é aqui.

Pessoalmente adoro o cuidado com a decoração das vitrinas.

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(C) The Book Hive
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(C) The Book Hive
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(C) The Book Hive
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(C) The Book Hive
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(C) The Book Hive

 

Novo livro da coleção «Uma Aventura» em março

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Uma Aventura na Casa da Lagoa
é o título do novo volume da famosa coleção de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Com lançamento marcado para o dia 25 de março, pela Editorial Caminho, a história passa-se, naturalmente, numa misteriosa casa onde estarão escondidos tesouros egípcios e que poderá estar amaldiçoada. A sinopse divulgada é esta:

«O pai da Glória, uma amiga das gémeas, comprou num leilão uma casa na Lagoa, casa que ainda não conhece. Um dia a Glória convida as gémeas e os amigos a passarem uns dias de férias na Casa da Lagoa. Quando chegam à Casa da Lagoa, perto de uma pequena aldeia, além da casa em mau estado, confrontam-se com uma mensagem aterradora numa das paredes: maldito seja quem pisar este chão… A partir daí todo o mistério se vai desenrolar: O Zé Cabeça anda a fugir da polícia por causa de um crime que não cometeu e uns quantos bandidos procuram de tesouros egípcios que julgam encontrar-se na Casa. E como aparece até uma múmia num dos anexos!!»

 

Balanço do primeiro ano do projeto «Voluntários de Leitura»

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Foi recentemente divulgado o relatório com o balanço do primeiro ano de atividade do projeto «Voluntários de Leitura», sobre o qual escrevi há uns meses. As conclusões são para já animadoras. Entre dezembro de 2012 e dezembro de 2013, 648 voluntários inscreveram-se no projeto, e dos quais 214 foram colocados em escolas, bibliotecas e outras organizações. A maior parte das iniciativas dos voluntários eram destinadas a alunos do 1.º ciclo. As expectativas para este ano é que o projeto liderado por Isabel Alçada continue a crescer e a incentivar o gosto pela leitura junto das crianças. O relatório completo pode ser lido aqui.

Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce

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A cadeia de supermercados Pingo Doce, numa parceria com a Alêthea Editores, lança o maior prémio de literatura infantil nacional para novos autores. O prémio divide-se em duas categorias, texto e ilustração, no valor de 25 000 euros para cada um. As candidaturas já estão abertas e decorrem até 22 de abril na categoria de texto, e de 2 de junho a 31 de julho na categoria de ilustração. A apresentação foi ontem, no Museu de Brincar, em Vagos, distrito de Aveiro. Para saber tudo sobre este concurso é só visitar a página oficial: www.pingodoce.pt/premio-de-literatura-infantil.