Agora que a maior feira internacional do livro infantil e juvenil terminou, as publicações da área fazem a retrospetiva do evento. As primeiras conclusões a que chegaram é que a procura por livros na área do realismo contemporâneo continua em alta e que a compra de direitos de ficção juvenil para crianças entre os oito e os doze anos, o chamado middle-grade, aumentou consideravelmente. A retrospetiva é da revista Publishers Weekly que destaca o facto de o paranormal e o distópico terem perdido força e os editores estarem agora mais virados para as histórias realistas com personagens que incorporam uma forma de anti-heroísmo dos nossos tempos. Por outro lado, embora se note um decréscimo na venda de direitos de livros do género distópico, há um aumento do interesse pelas histórias de tipo futurista, passados num futuro próximo, não muito distante, em que a tecnologia se desenvolveu, mas não num cenário de colapso da sociedade, como acontece em livros como Divergente ou Os Jogos da Fome.
Outra conclusão a que alguns editores chegaram foi que a feira não foi regulada por uma tendência generalizada sobre um tema específico, como noutros anos, mas em vez disso por escolhas mais ao nível de cada linha editorial, de acordo com o mercado de cada país.
A revista The Bookseller também destaca o crescimento da procura de ficção juvenil para crianças entre os oito e os doze anos e os grandes negócios que ainda se fazem na compra de direitos de títulos para jovens adultos (YA), com os valores a atingirem os seis dígitos. As séries perderam alguma força para os livros de um único volume. No final das contas, aquilo que os editores procuram é, sobretudo, boas histórias e personagens fortes.
Monthly Archives: Março 2014
Odette de Saint-Maurice e a Saga da Família Macedo
Odette de Saint-Maurice é nome estrangeiro, mas era de uma portuguesa de gema. Odette Passos y Ortega Más de Saint-Maurice nasceu a 12 de novembro de 1918, em Lisboa, e ficou conhecida como autora de uma coleção juvenil muito popular entre as décadas de 1950 e 1970 – a Saga da Família Macedo –, e que conta com 25 volumes. A editora Clube do Autor tem estado a publicar esta coleção.
Odette demonstrou logo em criança o seu talento para a escrita ao publicar um conto de sua autoria num jornal da época ainda não tinha dez anos, segundo descreve a biografia no sítio da editora. Aos dezoito anos, Odette publicou O Canto da Mocidade, o seu primeiro livro, e recebeu grandes elogios da imprensa da época, na ditadura do Estado Novo. A autora trabalhou também na Emissora Nacional, como produtora de programas juvenis e de folhetins radiofónicos. Faleceu a 5 de janeiro de 1993. No Campo Grande, em Lisboa, há uma rua com o seu nome.
Uma autora desconhecida das gerações mais novas e que adiciono à lista de autores portugueses de literatura juvenil.
Para conhecerem os volumes já publicados, não deixem de ir aqui.
Atualização: deixo também aqui uma ligação a um artigo de Carla Maia de Almeida sobre Odette e o contexto histórico em que os seus livros se inserem, e onde encontrão, na secção de comentários, a minha resposta (logo que seja aprovada a sua publicação) às afirmações da autora no primeiro parágrafo do artigo.
Os prémios em que quem votam são as crianças
É o Children’s and Teen Choice Book Awards e já vai na sua sétima edição. Aqui os votos que contam são os das crianças e dos adolescentes. Os vencedores serão anunciados durante o Children’s Book Week, que se realiza entre 12 e 18 de maio, um pouco por todos os EUA. Estes prémios são promovidos pelo Children’s Book Council e pelo Every Child a Reader – uma organização para a literacia –, e foram criados com o objetivo de dar às crianças e aos jovens uma voz que as motivasse para a leitura, bem como para a luta contra a iliteracia. Crianças e jovens de fora dos EUA também podem votar! Para isso façam o favor de passar por aqui.
Catarina Sobral vence prémio internacional de ilustração
É literatura infantil, mas não posso deixar de assinalar esta distinção (mais uma!) importantíssima para a ilustração portuguesa. Catarina Sobral acaba de vencer o Prémio Internacional de Ilustração por O meu avô. Trata-se de um prémio no valor de 21 000 euros, atribuído pela Feira do Livro Infantil de Bolonha, em Itália, e que tem estado a decorrer esta semana. Hoje é o último dia do evento.
Notícia daqui.
Estará a Hora do Conto em perigo em França?
Em França, segundo a revista Livres Hebdo, a Sociedade de Autores e Compositores Dramáticos (SACD) ameaça cobrar pelas Horas do Conto nas bibliotecas e livrarias. Várias bibliotecas têm sido abordadas para não organizarem horas do conto sem antes pedirem autorização para leitura em voz alta de obras de autores representados por aquela sociedade. A mesma revista avança ainda que a SACD pretenderá que estas atividades passem a ser sujeitas a um pedido prévio de autorização e ao pagamento de taxas. Num caso concreto, o contacto com uma biblioteca denunciado na internet gerou polémica entre a população ao que a SACD respondeu emitindo um comunicado a esclarecer que se tratou de um caso isolado e que nenhuma «política relativamente a este tipo de atividades foi alterada ou implementada». A sociedade salienta, no entanto, que nos termos do Código da propriedade intelectual, qualquer execução pública de um trabalho com direitos autorais deve ser precedida de autorização do autor. Informam ainda que pretendem abrir um espaço de «diálogo com os autores, os detentores de direitos autorais e as bibliotecas sobre o tema da leitura, a fim de clarificar as regras e melhorar o sistema, os interesses dos autores e seu público, especialmente os jovens.»
A notícia é daqui.
O artigo da Livres Hebdo encontra-se aqui.
Nahoko Uehashi e Roger Mello vencem prémio Hans Christian Andersen
Foram anunciados ontem, na Feira do Livro Infantil de Bolonha, os vencedores dos prémios Hans Christian Andersen. Na categoria de escrita, a autora distinguida foi Nahoko Uehashi, famosa pela série de livros juvenis Moribito. Na categoria de ilustração o Conselho Internacional sobre Literatura para os Jovens (IBBY) distinguiu o brasileiro Roger Mello. Os premiados receberão a distinção em setembro, no congresso internacional do IBBY, no México.
Notícia daqui.
Segundo volume da série «Gatos Guerreiros» já disponível
No artigo Livros de aventuras com animais como protagonistas faço referência à série Gatos Guerreiros, de Erin Hunter. A Planeta acaba de lançar em Portugal o segundo volume intitulado Fogo e Gelo. Nesta aventura «Coração de Fogo é agora um guerreiro do Clã do Trovão, mas o perigo ainda espreita na floresta…e mais perto do que ele pensa! Com o frio do Inverno a instalar-se, os gatos do Clã do Rio, seus rivais, estão a ficar inquietos; e o Clã do Vento encontra-se enfraquecido, cercado de ameaças por todos os lados… À medida que a tensão vai crescendo em direcção a um desfecho inevitável, Coração de Fogo terá de enfrentar não só a iminência de uma batalha mas também a traição que vem de dentro do seu próprio Clã.»
Para saber mais sobre estes livros, visite a página da editora aqui.
Jovem música aventura-se no romance juvenil
Chama-se Rebeca Amorim Csalog e publicou Glyrmandia, pela Planeta, com apenas dezassete anos. Filha de músicos, Rebeca vive em Lisboa e estuda no Conservatório onde aprende a tocar a harpa, como instrumento principal, e o violino, como instrumento secundário. Como harpista, ganhou prémios internacionais e já atuou com músicos conceituados. A aventura da escrita de Glyrmandia começou com um trabalho para a disciplina de português quando tinha doze anos, e que foi crescendo até se transformar num livro.
Para saber mais sobre esta escritora estreante, poderão visitar a página de perfil no sítio da editora aqui.
Encontrarão aqui também uma pequena entrevista feita à autora.
A história é esta:
Daniel tem 13 anos e, embora esteja habituado a viajar bastante, vai pela primeira vez à Índia com os pais e a irmã, visitar a avó que aí vive. Mas, a meio da viagem, o comboio é atacado por rebeldes e Daniel dá por si sozinho, perdido no meio da selva indiana. A partir daqui, uma aventura era inevitável, mas Daniel nunca poderia sequer ter sonhado que tomasse as proporções que tomou: que o levasse a conhecer o mundo paralelo de Glyrmandia e os companheiros que, tal como ele, foram recrutados para uma missão tão cheia de perigos como de maravilhas. Uma Criança, sábia e todo-poderosa, reina em Vissok Melleteton e precisa de segurança para poder crescer e manter assim o equilíbrio entre os mundos. Conseguirão Daniel, Kyra, Peter, Ayana, Tião, Shao Ling e Claire salvar Glyrmandia – e salvarem-se a si próprios – dos planos do infeliz e maléfico Raikzar? E conseguirão voltar para as suas famílias, ou mergulharão para sempre no negrume que ameaça a luminosa Glyrmandia e, por arrasto, o nosso mundo? Tudo depende deles, e terão de o fazer em conjunto!
A importância da diversidade na literatura juvenil

A escassez de personagens, particularmente de heróis, de outras raças e etnias na literatura juvenil é uma preocupação que tem gerado debate no meio. É certo que cada escritor escreve com base no seu próprio universo e se há mais escritores brancos com obras publicadas, é natural que os seus heróis sejam também brancos. Contudo, vivemos numa sociedade multicultural e multiracial. Será que essa sociedade está suficientemente representada na literatura juvenil ocidental? Será que uma criança negra, indiana ou asiática sentir-se-á identificada em pleno com os heróis literários da atualidade? Pode-se alegar que a cor da pele perde relevância quando as personagens retratadas passam por problemas que são transversais a todas as raças e culturas, mas será de facto assim? Fica a questão.
Walter Dean Myers, um escritor afro-americano de literatura YA, escreveu recentemente um artigo para o jornal New York Times, em que pergunta «Onde estão as pessoas de cor nos livros para crianças?». O autor reflete sobre isto e faz perguntas fundamentais:
«Books transmit values. They explore our common humanity. What is the message when some children are not represented in those books? Where are the future white personnel managers going to get their ideas of people of color? Where are the future white loan officers and future white politicians going to get their knowledge of people of color? Where are black children going to get a sense of who they are and what they can be?»
O artigo completo encontra-se aqui.
Num outro jornal, Tanya Byrne, autora inglesa de livros para crianças, reflete também sobre o artigo de Walter Dean Myers, e sugere dez obras com dez personagens negras. Infelizmente, apenas uma destas obras se encontrará atualmente traduzida em português – O Feiticeiro e a Sombra, de Ursula K. Le Guin, Editorial Presença – contudo é uma lista interessante para quem quiser aventurar-se a ler em inglês. Aqui.
Poesia para os miúdos
No Dia Mundial da Poesia, recupero um artigo que escrevi há uns meses, com uma pequena seleção de livros que se poderão oferecer hoje às crianças para que descubram e explorem o mundo encantado da poesia.
«Há muita poesia, mas poucos leitores. Assim se diz num país de grandes poetas. […] A poesia é talvez mais fácil de assimilar pelos pequeninos, ajuda-os a descobrir as palavras, a descobrir o ritmo das frases e de como jogar com a língua. Para mim a poesia foi fundamental quando estava a aprender a escrever. De tal modo que na infância e na adolescência só escrevia poesia. Variava entre a simples quadra, o soneto e a tentativa de inventar algo diferente, ousado, mas ainda assim com uma estrutura simples, fácil de assimilar.
Por me lembrar disto, de quão importante foi para mim a poesia, embora ler, não tenha lido muita, além de Sophia de Mello Breyner ou de António Gedeão, entre outros, fiz uma pequena pesquisa de livros de poesia para crianças e jovens. Eis uma seleção daqueles que encontrei e que me parecem particularmente interessantes.
Histórias em Verso para Meninos Perversos, de Roald Dahl, publicado pela Teorema, com tradução de Luísa Ducla Soares. É recomendado para crianças a partir dos dez anos.
Primeiro Livro de Poesia, de Sophia de Mello Breyner Andresen, editado pela Caminho já faz mais de dez anos, pelo que talvez seja um bocadinho difícil de encontrar.
A Casa com o Sol Lá Dentro, de Maria Teresa Maia Gonzalez, da PI editora, um livro em que a autora nos descreve como a natureza inspira a poesia, e no meu caso é bem verdade, porque a natureza era o mote principal dos meus poemas, escritos entre os nove e os doze anos, com os cheiros, as cores, os sítios que visitava e as marcas que me ia deixando.
De Que Cor é o Desejo?, de João Pedro Mésseder, Editorial Caminho, um livro que também segue a mesma linha que o da Maria Teresa Maia Gonzalez, mas explorando um pouco mais além, onde «a poesia é a arte de revelar através das palavras o lado escondido da realidade», os nossos desejos e medos.
E porque me parece um conceito interessante, aqui fica Desmatematicar, de João Manuel Ribeiro, da editora Trinta por uma Linha, com vinte poemas sobre números, tabuada e figuras geométricas, pois não podemos viver sem palavras e sem números.»
Artigo daqui.