Que livros devem ler as crianças? Que tipo de livros? Livros de monstros para os rapazes, livros de princesas para as raparigas. Livros considerados muito bons pelos críticos ou apenas muito bons em vendas, mas não tão bons ao nível da escrita? Há quem defenda que se deva deixar as crianças e os jovens lerem o que quiserem, independentemente de género ou da qualidade, desde que leiam, isso é que é importante. Outros, pelo contrário, acreditam que não, que deve haver critério.
O estabelecimento de critérios estará sempre sujeito a níveis de subjetividade que variam de pessoas para pessoa. Não creio que se deva limitar aquilo que um rapaz ou uma rapariga podem ler, como se os rapazes só se interessassem por banda desenhada e as raparigas por histórias românticas, como defende também uma jornalista num artigo do The Telegraph, e que serviu de base para esta minha breve reflexão. O melhor é deixá-los expandir os seus horizontes não a partir de estereótipos de género, mas do conteúdo das histórias.
É claro que certos livros, principalmente aqueles que foram publicados num determinado momento histórico, devem ser lidos com orientação, para que as suas histórias sejam contextualizadas, como no caso por exemplo de As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, do Não Matem a Cotovia, de Harper Lee, do Tintin, e no que diz respeito a autores portugueses, dos livros de Odette de Saint-Maurice, entre outros. Pode-se assim estabelecer um paralelismo entre aquilo que estarão a estudar na disciplina de História, e as visões de cada época através da literatura. É uma forma prática de estimular uma leitura crítica e isso só pode ser enriquecedor para a criança e para o jovem.
É, pois, importante que leiam um pouco de tudo, e que os rapazes também leiam livros cujo marketing é mais direcionado para as raparigas, e que as raparigas tenham acesso a livros que à partida seriam mais destinados aos rapazes, porque assim constroem dentro de si a capacidade de questionar e de olhar o mundo sob diferentes perspetivas que não aquelas determinadas somente pelo género, por estereótipos ou pelo contexto da época ou da sociedade em que vivem.
