Monthly Archives: Abril 2014

Deixá-las ler o que quiserem

Que livros devem ler as crianças? Que tipo de livros? Livros de monstros para os rapazes, livros de princesas para as raparigas. Livros considerados muito bons pelos críticos ou apenas muito bons em vendas, mas não tão bons ao nível da escrita? Há quem defenda que se deva deixar as crianças e os jovens lerem o que quiserem, independentemente de género ou da qualidade, desde que leiam, isso é que é importante. Outros, pelo contrário, acreditam que não, que deve haver critério.
O estabelecimento de critérios estará sempre sujeito a níveis de subjetividade que variam de pessoas para pessoa.  Não creio que se deva limitar aquilo que um rapaz ou uma rapariga podem ler, como se os rapazes só se interessassem por banda desenhada e as raparigas por histórias românticas, como defende também uma jornalista num artigo do The Telegraph, e que serviu de base para esta minha breve reflexão. O melhor é deixá-los expandir os seus horizontes não a partir de estereótipos de género, mas do conteúdo das histórias.
É claro que certos livros, principalmente aqueles que foram publicados num determinado momento histórico, devem ser lidos com orientação, para que as suas histórias sejam contextualizadas, como no caso por exemplo de As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, do Não Matem a Cotovia, de Harper Lee, do Tintin, e no que diz respeito a autores portugueses, dos livros de Odette de Saint-Maurice, entre outros. Pode-se assim estabelecer um paralelismo entre aquilo que estarão a estudar na disciplina de História, e as visões de cada época através da literatura.  É uma forma prática de estimular uma leitura crítica e isso só pode ser enriquecedor para a criança e para o jovem.
É, pois, importante que leiam um pouco de tudo, e que os rapazes também leiam livros cujo marketing é mais direcionado para as raparigas, e que as raparigas tenham acesso a livros que à partida seriam mais destinados aos rapazes, porque assim constroem dentro de si a capacidade de questionar e de olhar o mundo sob diferentes perspetivas que não aquelas determinadas somente pelo género, por estereótipos ou pelo contexto da época ou da sociedade em que vivem.

Ilustração retirada daqui
Ilustração retirada daqui

Cinco com poderes do Olimpo

Há uma saga de livros chamada Olimpvs.net e cujas autoras acabam de lançar o quinto volume intitulado O Regresso à Atlântida. Ana Soares e Bárbara Wong escrevem esta série em conjunto, uma parceria que se iniciou com No Labirinto do Minotauro. Nestes livros, cinco jovens veem a sua vida alterada para sempre quando recebem os símbolos e os poderes dos deuses do Olimpo. Zé, Alice, António, Mel e Pedro terão de aprender a usar os seus novos poderes para ajudar a salvar o mundo das forças do mal. Aproveitando as novas tecnologias, Zé, o líder do grupo, cria uma plataforma virtual para que o grupo possa comunicar entre si e com o mundo: rede.olimpVs.net.

Ana Soares é professora de português e autora de manuais escolares e Bárbara Wong é editora e jornalista no jornal Público.

Para saber mais sobre as autoras e os livros, podem visitar a página oficial da série aqui.

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Morreu a autora de «O Diário Secreto de Adrian Mole»

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Sue Townsend, autora dos diários de Adrian Mole, faleceu na passada sexta-feira, com 68 anos. «O primeiro livro da série, O Diário Secreto de Adrian Mole aos 13 anos e 3/4, foi publicado em 1982. Sue Townsend inspirou-se nos seus filhos e na escola que eles frequentavam para escrever este livro. O protagonista era um adolescente com 13 anos e 3/4 que se debatia com os problemas comuns nos rapazes da sua idade – as discussões com os pais, as borbulhas, a escola, a paixão pela sua amiga Pandora, o divórcio dos pais – e ainda com os problemas sociais da Inglaterra dos anos de Thatcher. Os pais pertenciam à classe média, educada e de esquerda, e as questões políticas estão muito presentes. Mas tudo é visto do ponto de vista de Adrian e com muito humor.», escreve o Diário de Notícias.
Ao todo, a autora escreveu oito volumes sobre Adrian Mole, o últimos dos quais publicado em 2009. Mais sobre esta série aqui.

Tenho as edições da Difel, adquiridos na minha adolescência. São dos poucos livros que li nessa época, mas que ficaram comigo até hoje. Foram reeditados recentemente pela Editorial Presença.

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«Alice no País das Maravilhas» e a matemática

Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido como Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, era, além de escritor, professor de matemática e de lógica. Talvez por isso gostava muito de jogar com as palavras, com a lógica e de incorporar na sua escrita alguns enigmas matemáticos. A certa altura, em Alice no País das Maravilhas, Alice faz contas de multiplicar que não parecem fazer qualquer sentido, como 4×5 é igual a 12 ou que 4×6 dá 13. Na verdade, Carroll estava a jogar com conceitos matemáticos relacionados com expoentes (algo indecifrável para mim). O autor também brinca com a lógica, como por exemplo no episódio em que o Gato Cheshire desaparece quase totalmente no ar, menos o seu sorriso, e Alice comenta já ter visto muitos gatos sem sorriso, mas nunca um sorriso sem um gato (numa tradução mais ou menos livre). Algumas das situações ridículas contadas na história não passam de referências e jogos de palavras, por vezes tão sofisticados que passam despercebidos aos leitores (como eu).
Durante toda a história, Alice depara frequentemente com puzzles e problemas de resolução impossível e que a deixam por de mais frustrada. Carroll achava as histórias da sua época demasiado moralistas e simplistas, pelo que considerava importante demonstrar às crianças que, tal como na vida real, nem todos os problemas tinham uma resposta lógica ou sequer um significado. É interessante verificar que uma história para crianças possa ter tantas leituras, em níveis tão diferentes.

Deixo algumas análises interessantes a Alice aqui, aqui e aqui.

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O meu exemplar das obras de Lewis Carroll, numa edição da Barnes & Noble.

Personalidades da nossa História apresentadas às crianças

(c) Imagem retirada de Blogtailors

Porque é importante conhecer as grandes personalidades que fazem parte da História de Portugal, a Imprensa Nacional – Casa da Moeda e a Pato Lógico criaram uma coleção juvenil que apresenta essas personalidades às crianças. Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Salgueiro Maia são algumas dessas «Grandes Vidas Portuguesas» que se distinguiram em diferentes domínios da nossa cultura e da nossa sociedade e cujas biografias se encontram agora em volumes escritos por José Jorge Letria e ilustrados por João Fazenda. Pelos excertos divulgados, numa linguagem simples e acessível, o tom é o de quem conta uma história, como se leitor e narrador estivessem um ao pé do outro.

Notícia daqui.

Livros que estão a dar que falar

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A partir de hoje e tentativamente à quarta-feira publicarei a rubrica «BookBuzz», sobre livros que estão a dar que falar lá fora e cá dentro. A imagem de topo é da capa de Rooftoppers.

Rooftoppers, de Katherine Rundell

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Katherine Rundell foi recentemente galardoada com o Waterstones Children’s Book Prize 2014, pelo livro Rooftoppers, que também recebeu nomeações para inúmeros outros prémios. A história segue as aventuras de Sophie que terá perdido a mãe num naufrágio, mas ela acredita que a mãe ainda está viva e foge das autoridades para procurá-la em Paris com a ajuda do amigo Matteo e de um grupo de «salteadores de telhados», crianças que vivem na rua. Artigo sobre o livro no The Telegraph.

Convergente, de Veronica Roth

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Chegou agora a Portugal, através da Porto Editora, o terceiro livro da série Divergente, e já anda pelos tops nacionais, graças à estreia do filme baseado no primeiro volume. As filmagens de Insurgente, o segundo da série, estão em fase de preparação e o filme tem estreia prevista para março de 2015. Comparado a Jogos da Fome, Veronica Roth concentra a sua história numa Chicago pós-apocalíptica e cuja sociedade se divide em cinco fações. Neste último livro da saga «a nova realidade de Tris é ainda mais assustadora do que a que deixou para trás. As descobertas recentes revelam-se vazias de sentido, e a angústia que geram altera as vontades daqueles que mais ama. Uma vez mais, Tris tem de lutar para compreender as complexidades da natureza humana ao mesmo tempo que enfrenta escolhas impossíveis de coragem, lealdade, sacrifício e amor. Alternando as perspetivas de Tris e Quatro, Convergente, encerra de forma poderosa a série que cativou milhões de leitores em todo o mundo, revelando por fim os segredos do universo Divergente

Half Bad – Entre o Bem e o Mal, de Sally Green

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Muito falado nos últimos tempos, devido à competição que houve entre editoras para comprar os direitos de publicação, e já editado em Portugal pela Editorial Presença, este Half Bad traz de novo o tema das bruxas e da feitiçaria à literatura para crianças e jovens. A sinopse conta-nos que «na Inglaterra dos nossos dias, bruxos e humanos vivem aparentemente integrados. Na realidade, os bruxos têm a sua própria sociedade secreta, as suas regras e a sua guerra, que divide os Bruxos Brancos, considerados «bons», e os Bruxos Negros, odiados e perseguidos pelos Brancos. O herói, Nathan, é filho de uma Bruxa Branca e de um Bruxo Negro e, portanto, considerado perigoso. Nathan é constantemente vigiado pelo Conselho dos Bruxos Brancos desde que nasceu e aos 16 anos é encarcerado e treinado para matar. Mas Nathan sabe que tem de fugir antes de completar 17 anos e a sua determinação é inabalável. Este é o romance de estreia de Sally Green e o primeiro volume de uma nova trilogia do género fantástico».

Fangirl, de Rainbow Rowell

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Rainbow Rowell é a autora best-seller de Eleanor & Park, um romance YA nomeado para diversos prémios. Na onda ascendente do realismo contemporâneo surge-nos este Fangirl, saído em setembro do ano passado. Conta a história de Cath, uma fã obcecada por uma série tipo Harry Potter, chamada Simon Snow. Ela escreve fanfiction com base nas suas personagens favoritas, participa em todos os fóruns sobre os livros, e é a primeira na fila para as estreias de todos os filmes baseados na série . A sua obsessão é partilhada pela irmã gémea Wren até ao dia em que vão para a faculdade e Wren decide que quer ter uma vida separada da irmã. Cath vê-se assim, de repente, por sua conta, e não sabe o que fazer. Mais sobre este livro aqui.

 

Há 50 anos a protestar contra a sopa (entre muitas outras coisas)!

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A minha coleção velhinha, velhinha. 🙂

Não é literatura, nem novela gráfica, é banda desenhada e é relevante, tanto para crianças, como para adultos, seja em que século for. A Mafalda, de Quino, completa em 2014 cinquenta anos de existência. Quando tinha os meus dez/onze anos, descobri esta menina reguila através daqueles livros de A Minha Agenda. E quando verifiquei que os meus pais tinham a coleção completa, delirei a ler os livrinhos todos, tantas e tantas vezes, que as capas quase caíram. Hoje ainda os guardo e de vez em quando releio algumas tiras. Lembro-me tão bem de, apesar da minha tenra idade, perceber algumas referências e de me rir às gargalhadas com elas.

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O mais curioso é constatar que ao fim de tantos anos não perderam a atualidade e que muitas das críticas que Quino faz através da Mafalda, nomeadamente a corrupção, a injustiça, os problemas económicos, o ambiente, continuam a fazer todo o sentido hoje em dia. Quererá isto dizer que o mundo não melhorou nem um bocadinho? Há sempre esperança.

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Para saber mais sobre a Mafalda e sobre o seu criador, Quino, encontrarão informação aqui.

A livraria «Books and Cookies», EUA

Fica no estado da California, em Santa Monica, e parece convidar não só a ler, mas também a viver a leitura. Com espaços amplos e cores claras, esta livraria infantil e juvenil desperta a imaginação e a vontade de explorar as páginas de um livro. Faltou encontrar as bolachinhas nas fotografias, mas tenho a certeza de que estarão algures!
A página oficial da livraria fica aqui.

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«O Principezinho» adaptado ao cinema

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A obra prima de Saint-Exupéry está a ser adaptada ao cinema. O filme de animação, cuja estreia mundial está prevista para 7 de outubro de 2015, contará com as vozes de atores como James Franco, Jeff Bridges, Rachel McAdams, Marion Cotillard, Benicio del Toro, Paul Giamatti e Albert Brooks. Um elenco de luxo num filme realizado por Mark Osborne, realizador de Kung Fu Panda, da Dreamworks. O cartaz acabou de ser revelado e já provocou uma onda de reações. A notícia é daqui.

A série de desgraças de Lemony Snicket

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Quem é Lemony Snicket? A verdadeira identidade do autor dos «terríveis» livros de «Uma Série de Desgraças» foi para mim um mistério durante anos. A sua biografia era no mínimo intrigante: «Limony Snicket nasceu antes de ti e é provável que morra antes de ti também», é desta forma vaga que é introduzido. Mas continua «a sua família tem raízes numa parte do país que está agora debaixo de água e a sua infância foi passada no relativo esplendor da Quinta Snicket que entretanto já foi uma fábrica, uma fortaleza e uma farmácia e é agora novamente a quinta de alguém».
Quem é, afinal de contas, Lemony Snicket? Se preferem não saber, então aconselho a continuarem o vosso passeio por outros sítios da internet. Aproveitem agora.
Na verdade Lemony Snicket é um pseudónimo. O escritor por detrás dele é Daniel Handler, um autor americano nascido em São Francisco em 1970, filho de uma cantora de ópera e de um contabilista. Antes de publicar sob o psedónimo de Lemony Snicket, editou quatro livros sob o seu nome verdadeiro, um deles rejeitado 37 vezes antes de ser finalmente aceite para publicação. O título desse livro é The Basic Eight, lançado em 1998, e conta-nos as vivências de uma adolescente e dos seus sete amigos no último ano do secundário. O tom mordaz e sombrio da história terá dificultado a aceitação por parte das editoras. O seu mais recente livro, Why We Broke Up, foi distinguido com o prémio honorário Michael L. Printz, em 2012. Mas a sua obra mais prolífica é, sem sombra de dúvida, aquela que produziu como Lemony Snicket, com treze volumes, e agora com mais três  na nova série – supostamente uma prequela de « Uma Série de Desgraças» –, «All The Wrong Questions».
E aqui está desvendado o mistério para quem não conhecia. Se estiverem curiosos em saber que lições de vida tem ele para nos dar então espreitem aqui.

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