
A preocupação com aquilo que é politicamente correto ou incorreto num livro para crianças chega por vezes a roçar o exagero. Um dos exemplos mais recentes é a polémica que se gerou à volta do livro Tous à poil!, de Marc Daniau e Claire Franek, um livro que mostra como são os corpos das pessoas por baixo das suas roupas, independentemente de profissão, raça, condição social, retirando-lhes não só o vestuário, mas os preconceitos. Mais sobre esta história aqui.
A censura começa, porém, muitas vezes dentro das próprias editoras, muito preocupadas em ferir susceptibilidades. Compreende-se a questão em certas situações, mas noutras a linha a partir da qual se considera que o politicamente (in)correto foi ultrapassado começa a ficar demasiado turva. Na Inglaterra, uma editora chamou a atenção de uma autora de livros infantis, Lindsey Gardiner, para o facto de ter no seu livro a ilustração de um dragão a deitar fogo da boca. A editora receava ser alvo de um processo por causa das normas de segurança, dado que uma criança que lesse aquele livro podia querer depois fingir ser um dragão e, na brincadeira, usar o fogo para interpretar a personagem. Outras alterações que a editora quis fazer foram tirar um rapaz de cima de um escadote e mudar a cor de um fogão elétrico ligado de vermelho para verde. A autora chama a atenção para este tipo de atitudes que subestima a inteligência das crianças. E na verdade estas decisões não parecem ser tomadas com vista a proteger as crianças, mais parecem existir para proteger as editoras de serem processadas. Tudo sobre este caso no sítio da Publishing Perspectives.