Pode-se ler mal um livro? Será uma criança ou um adolescente capaz de examinar por si um texto e retirar das suas profundezas algo mais do que apenas aquilo que está à superfície? Num blogue no qual tropecei enquanto fazia as minhas pesquisas na Internet, uma leitora expôs num artigo a sua preocupação com o facto de achar que lê mal os livros, que os outros conseguem retirar deles analogias e referências que ela não consegue por fazer uma leitura completamente distinta. Tudo dependerá do livro que se lê, é certo, mas parece-me uma questão muito pertinente.
Na adolescência sofri da mesma ansiedade. Nas aulas de português, sempre que se analisava um texto, tinha muita dificuldade em interpretá-lo segundo os parâmetros fornecidos pela professora ou pelo manual escolar. Não havia uma grande liberdade ou compreensão por visões diferentes, pelo que me sentia limitada e pouco à vontade para expor as minhas ideias. Por fim, veio a desmotivação. Para que as notas não sofressem com isso, deixei as minhas próprias interpretações de lado. Talvez seja por esse motivo que tenha lido tão pouca literatura nos tempos da escola, principalmente no secundário. Por outro lado, foi nesses anos que mais produzi ao nível da escrita. Tenho textos e textos e poemas às dezenas, escritos nessa altura.
Será então possível que muitos leitores jovens se afastem da leitura por acreditarem que «leem mal»? Por não lerem os livros como os professores, educadores ou outros tencionam que eles sejam lidos?
Como se pode decidir se uma criança está certa ou não na sua interpretação se, apesar de não ser aquilo que se esperava, for ainda assim válida? Como se poderá estimular o pensamento crítico e a criatividade nas crianças, sem com isso tornar demasiado dispersos os parâmetros que determinam a interpretação correta de um texto? Não creio que haverá uma única resposta certa.
O artigo que referi pode ser lido aqui.