A Penguin revelou recentemente a capa de uma edição comemorativa para adultos da obra de Roald Dahl, Charlie e a Fábrica de Chocolate, gerando uma onda de choque na internet. A capa foi considerada sinistra e demasiado sexual (com ecos de Lolita) para um livro infantil, ainda que a edição fosse direcionada aos adultos. Alguns autores manifestaram o seu descontentamento no twitter, como Joanne Harris, que questionou a opção de ter edições distintas de clássicos infantis da literatura para crianças e adultos.
A editora explica que a rapariga da capa não é nem Violet Beauregarde nem Veruca Salt, duas personagens do livro, mas a mera «representação da relação disfuncional entre pais e filhos ilustrada na obra».
A concepção de edições diferentes para crianças e adultos começou com o crescimento da popularidade dos livros de Harry Potter entre os mais crescidos e para que estes não sentissem vergonha de ler um livro para miúdos.
Parece-me compreensível que numa edição para adultos a capa seja mais subversiva, em concordância com os temas subliminares da história de Charlie e a Fábrica de Chocolate. Creio mesmo que a decisão de criar edições diferentes com a faixa etária em vista, pode servir como meio de distinguir perspetivas e de despertar os adultos para outras leituras daquela obra e de outras, pois a tendência é para as minimizarem como meras histórias infantis, sem conteúdo ou contexto. Não obstante, sensibilidade e bom senso são sempre fatores a ter em conta no que diz respeito a clássicos da literatura.
O The Telegraph debate esta questão aqui.
Entretanto, a edição portuguesa, lançada pela Civilização em 2011, apresenta na sua capa as relativamente seguras ilustrações de Quentin Blake.