por Alexandra Martins
No final do livro Se eu ficar, de Gayle Forman, Mia Hall escolheu ficar – escolheu acordar do coma profundo em que se encontrava, resultante do acidente de carro no qual morreram os seus pais e o seu irmãozinho, e enfrentar a terrível recuperação física e psicológica, ao lado dos avós, dos amigos e do seu namorado, Adam. É esta a ideia que nos fica quando chegamos à última página, quando fechamos o livro. Mia abriu os olhos, escolheu viver, vai recuperar e ser feliz. Como? Isso ficaria à nossa imaginação, caso não houvesse um segundo volume onde procurar as respostas que nos faltaram.
Espera por mim retoma a história três anos depois do fatídico acidente que vitimou a família Hall. Mas dá-se aqui o primeiro twist: a história é contada do ponto de vista de Adam. E não é uma história feliz. Com um fundo depressivo e escuro, este livro é muito mais adulto e maduro do que o primeiro – deixámos para trás a vozinha adolescente de Mia e encontramos agora um amargurado, torturado e instável Adam que, ao longo das páginas, nos vai dando conta da sua vida atual como estrela do rock e do que aconteceu até ele chegar aqui. Os capítulos alternam-se entre o aqui e agora e analepses que nos remetem para o período de recuperação de Mia, o momento em que ela é aceite em Julliard e parte para Nova Iorque, o lento afastamento entre o casal e a rutura abrupta por parte de Mia, que deixa de responder às mensagens, telefonemas e e-mails de Adam. Entramos então numa espiral descendente na vida de Adam, que transforma os seus sentimentos de revolta num conjunto de canções de sucesso e lança a sua banda para o estrelato. Volvidos três anos, eles são uma das bandas mais conhecidas de sempre, mas estão à beira do precipício – não se falam, não se entendem, Adam vive à base de calmantes e tem ataques de fúria contra os jornalistas. Tudo porque, segundo lhe costuma dizer a sua atual namorada, ainda não conseguiu esquecer e largar o passado.
Depois do primeiro livro nos mostrar um Adam calmo, confiante e muito maduro para os seus dezoito anos, encontrá-lo assim quebrado e frágil é uma lufada de ar fresco no panorama literário. Descobrir que os seus sonhos se realizaram mas não o satisfazem, que a tragédia o lançou em caminhos sombrios e o transformou numa figura muito diferente daquilo que ele era, traz-nos uma ponta de crueza e de veracidade à história. Afinal, lidamos aqui com a perda, quer através da morte, quer através do abandono, de pessoas que eram tão chegadas como família; lidamos com as amizades que se enfraquecem em face das reviravoltas da vida; lidamos com a solidão de quem se vê rodeado de gente mas sem um único ombro de apoio.
É então que Mia entra em cena. Por uma coincidência do destino (ou não), o seu caminho cruza-se com o de Adam em Nova Iorque, por apenas uma noite, o que lhes dá a oportunidade de encontrarem uma conclusão para a sua história. Por entre conversas de circunstância e muitas hesitações, os pedaços das suas vidas vão sendo encaixados e permitem-nos desvendar o puzzle que foram os últimos três anos. Adam e Mia alcançaram o sucesso precoce em universos distintos – ela é agora uma violoncelista famosa – mas será que os seus mundos se afastaram tanto que já não se tocam de forma alguma? Ou será que o afastamento forçado que viveram durante três anos não chegou para apagar os sentimentos que os uniam e que, de certa forma, nunca morreram?
É já no final do livro que nos chegam as respostas a estas perguntas, em dois momentos muito tocantes e de uma beleza muito pura – a perda, a aceitação, o reencontro. E depois, uma conclusão que merecia mais páginas, mais tempo para respirar e para viver na mente dos leitores, mas que, ainda assim, não estraga a restante experiência de leitura, uma leitura mais pesada do que a do primeiro livro, mas também mais profunda, mais crua e mais real. Mais poderosa!
Título: Espera por mim (Se Eu Ficar #2)
Autor: Gayle Forman
Tradução: Maria Georgina Segurado
Editor: Editorial Presença