por Alexandra Martins
Mea culpa. Eu, que cresci a devorar todos os livros infantojuvenis que me apareciam à frente e que li coleções inteiras, nunca tinha lido este livro – Rosa, minha irmã Rosa, de Alice Vieira. Agora, aos 28 anos, este livro veio parar-me às mãos e eu decidi dar-lhe uma vista de olhos. E fiquei encantada com o que descobri naquelas páginas. A história em si é simples, não pretende ser mais do que o retrato de vida de uma família e do seu dia a dia, visto pelos olhos de Mariana que, aos dez anos, descobre que vai ter uma irmãzinha, o que abala toda a sua estrutura familiar e o seu mundo.
A forma como Mariana nos conta a sua história, os seus pensamentos e, mais importante, os seus sentimentos em relação a esta nova realidade é de uma franqueza e de uma inocência enternecedoras. Nas páginas do livro, não encontrei as palavras da autora, mas sim as palavras daquela menina de dez anos, a sua realidade e o seu olhar sobre as verdades da vida. Um olhar atento, mas nem sempre capaz de captar as subtilezas do mundo adulto, o que leva a reflexões interessantíssimas sobre a sociedade e a sua família. Diz Mariana: «Se não formos nós a educar os nossos pais, quem é que os educa? Se não formos nós a ensinar-lhes certas coisas, quem é que os ensina?». E, na verdade, com a chegada de Rosa à vida desta família, não vai ser só Mariana a aprender coisas novas, mas também os seus pais, a sua avó Elisa, até a Tia Magda. Mas é na Mariana que vemos a maior transformação, é o seu lento despertar para a realidade do que significa ser irmã (mais velha) e do que significa amar outro ser com todas as nossas forças, que encontramos o fio condutor desta narrativa. Rosa começou por ser uma intrusa que veio roubar as atenções de todos, até roubar também as de Mariana, e esta perceber que, afinal, também ama a sua irmãzinha, mesmo que ela seja demasiado pequena para poder brincar com ela e que ainda vá demorar muito tempo para crescer.
Eu também sou irmã mais velha. Não me lembro de ter reagido da mesma forma que a Mariana à chegada da minha irmã, mas consegui criar uma grande empatia com a menina de dez anos que, de um momento para o outro, se tornou irmã. Porque o amor nem sempre é instantâneo, mas quando nos tornamos irmãos, o amor que surge, quando surge, é mesmo para sempre.
Uma leitura imprescindível para todos, sejam miúdos, ou graúdos que, como eu, não tiveram oportunidade de ler este maravilhoso livro antes.