por Sofia Pereira
No passado dia 27 de março celebrou-se o Dia Mundial do Teatro.
O teatro teve origem na Antiguidade Clássica, no século V. a.C., e era representado nos festivais anuais em honra de Dionísio, deus das festas e do vinho, e em jogos públicos, para divertimento do povo. Os textos abordavam géneros específicos – a tragédia e a comédia – e, mais do que provocar o riso, serviam para distrair os populares das desgraças e criticar os costumes da sociedade. Sófocles, Ésquilo e Eurípides, na tragédia, e Aristófanes e Plauto, na comédia, foram dos autores que mais se destacaram e influenciaram, posteriormente, os dramaturgos que se lhes seguiram.
Ao longo dos tempos, o teatro afirmou-se como um importante veículo de comunicação e transmissão de ideias sociais, culturais, políticas, económicas e educativas, evoluindo em termos de representação e géneros teatrais (farsa, auto, melodrama, tragicomédia, musical, entre outros). Não é, portanto, de questionar a sua vitalidade até aos dias de hoje.
Pese embora o objetivo primordial ser despertar sentimentos e emoções nos espetadores, o teatro procura ser também um suplemento da vida, mantendo à distância o mal e a desgraça, mas pretende ainda apresentar em cena intrigas, com intuito pedagógico e moralizante, que levem à reflexão grandes questões do Homem e da sociedade: a educação, a dignidade humana, a religião, o respeito e a política.
A leitura e a representação de textos de teatro revelam-se uma importante forma de aprendizagem e de crescimento para as crianças e os jovens, uma vez que favorece a auto-estima, a criatividade e a imaginação, estimula a relação interpessoal, a criação de histórias, personagens e jogos de imitação, e desenvolve a comunicação verbal e não-verbal.
Para assinalar o Dia Mundial do Teatro, deixamos aqui a sugestão de alguns livros de teatro, para ler, para partilhar, para representar:
Polegarzinho, de João Paulo Seara Cardoso, ilustração de Júlio Vanzeler, Campo das Letras
«Esta peça foi escrita especialmente para o Teatro de Marionetas do Porto e representada pela primeira vez em 25 de Maio de 2002, no Balleteatro Auditório. O texto inspira-se livremente nas versões clássicas do Polegarzinho escritas por Joseph Jacobs, Perrault, Grimm e Andersen e ainda nas versões aculturadas de que Tom Thumb (Inglaterra), Tom Poucet (França) e João Polegar (Portugal) são alguns exemplos.»
Hoje Também Há Palhaços, de Maria Alberta Menéres e António Torrado, ilustração de Nikola Raspopovic, Edições Asa
«É assim que, depois de Hoje Há Palhaços, a ASA lança agora Hoje Também Há Palhaços, segundo título de uma série assinada por António Torrado e Maria Alberta Menéres que reúne em livro vários dos sketches televisivos que ambos escreveram há já vários anos para a RTP, em torno das aventuras e desventuras dos simpáticos Anacleto e Emilinho. Com textos muito engraçados, adequados sobretudo aos 1º e 2º ciclos de escolaridade, e ilustrações bem apelativas da autoria de Nikola Raspopovic, Hoje Também Há Palhaços vem assim pôr à disposição de professores, dinamizadores de tempos livres e educadores em geral mais um conjunto de textos dramáticos que estes poderão trabalhar com as crianças, dando-lhes a possibilidade de subirem aos palcos das escolas, associações recreativas e casas de espectáculos, em actividades teatrais infantis de manifesto interesse lúdico-didáctico.»
Espanta-Pardais, de Maria Rosa Colaço, ilustração de Albino Moura, Vega
«Livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 3.º Ano de escolaridade. Leitura com apoio do professor. Espanta-Pardais é unanimemente aclamado como a maior obra infantil da literatura portuguesa do século XX. A procura que tem tido, a multiplicidade de trabalhos escolares que tem gerado, as várias representações teatrais, quer pelos alunos das escolas quer por companhias teatrais, a quantidade de referências que tem suscitado, tudo aponta nesse sentido. A odisseia poética do Espanta-Pardais apostado em ser pessoa real, Maria Primavera e o Pássaro Verde são personagens inesquecíveis, e as suas aventuras na Estrada-Larga ficaram na memória de muitas gerações de leitores.»
Os Piratas, de Manuel António Pina, Porto Editora
«Livro Recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 6.º Ano de Escolaridade. Leitura Orientada. E se, de repente, te visses a bordo de um navio de piratas? Não fazes ideia de como foste lá parar, só sabes que tens de salvar a tua mãe, mas o Capitão toma-te por um dos seus grumetes… No meio do desespero, acordas e pensas que tudo não passou de um terrível pesadelo. Mas logo te apercebes que ainda trazes na cabeça o lenço vermelho de pirata… Terá sido sonho ou realidade?»
Os Herdeiros da Lua de Joana, de Maria Teresa Maia Gonzalez, Pi
«Livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 8.º Ano de escolaridade. Leitura orientada na Sala de Aula. Grau de dificuldade I. A partir do livro A Lua de Joana, escreveu Maria Teresa Maia Gonzalez esta peça de teatro onde vamos encontrar as suas personagens no momento do luto pela perda irreparável que sofrera. Confrontam-se entre si, transmitindo uma advertência contra o uso de drogas que é cada vez mais importante nos tempos que correm. Se gostaste de A Lua de Joana, não vais querer deixar de ler este livro. A Lua de Joana é um dos maiores sucessos de sempre na literatura juvenil portuguesa. A sua leitura por centenas de milhares de jovens, pais e professores do país impôs a escrita pela autora desta peça, possibilitando assim que muitos deles a encenem e possam, como no livro, debater e prevenir o uso das drogas.»
História Breve da Lua, de António Gedeão, Porto Editora
«Livro Recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 8.º Ano de Escolaridade. Leitura Orientada. Vou contar-vos uma história que espero que vos agrade. Diz essa história que outrora a superfície da Lua não era como é agora… Descobre a história (breve) da Lua, nesta divertida peça escrita em verso, com um toque sublime de imaginação. A Coleção Educação Literária reúne obras de referência da literatura portuguesa e universal indicadas pelas Metas Curriculares de Português e pelo Plano Nacional de Leitura.»
In Nomine Dei, de José Saramago, Editorial Caminho
«Entre o homem, com a sua razão, e os animais, com o seu instinto, quem, afinal, estará mais bem dotado para o governo da vida? “Não faz sentido?” “Se os cães tivessem inventado um Deus, brigariam por diferenças de opinião quanto ao nome a dar-lhe, Perdigueiro fosse, ou Lobo-d’Alsácia? E no caso de estarem de acordo quanto ao apelativo, andariam, gerações após gerações, a morder-se mutuamente por causa da forma das orelhas ou do tufado do seu canino Deus?” Estas considerações podiam ser tomadas como ofensivas, mas José Saramago trata de se defender: “Não é culpa minha nem do meu discreto ateísmo se em Münster, no século XVI, como em tantos outros tempos e lugares, católicos e protestantes andaram a trucidar-se uns aos outros em nome de Deus – ‘In Nomine Dei’ – para virem a alcançar, na eternidade, o mesmo Paraíso.” “Os acontecimentos descritos nesta peça representam, tão só, um trágico capítulo da longa e, pelos vistos, irremediável história da intolerância humana”, explica o autor. “Que o leiam assim, e assim o entendam, crentes e não crentes, e farão, talvez, um favor a si próprios. Os animais, claro está, não precisam.” (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)»
Júlio César, de William Shakespeare, Cotovia
«Júlio César quer o poder numa Cidade que sabe estar minada pela podridão, pela intriga, pela alienação. A Tragédia de Júlio César, título com que a peça nos aparece na sua primeira edição, é a tragédia de quem assume o poder sabendo que não pode ser justo quem governa um mundo injusto, e assim se condena à morte. Por ambição, como dizem os honestos? Não importa. Quem quiser reinar num mundo injusto terá de ser tirano. E por ser tirano será abatido. E sendo abatido dará lugar a nova tirania, mais injusta do que a sua, numa Cidade que o terá abatido menos para se purificar que para esconjurar uma culpa que é incapaz de reconhecer. Mais do que a tragédia de um homem ou a tragédia do poder, A Tragédia de Júlio César é a tragédia da própria Cidade, da própria vida política de todos os seus cidadãos. Júlio César é a tragédia de Roma. E Roma é a Cidade, é a vida em comum dos homens.»
Feliz Dia Mundial do Teatro!
Uma opinião sobre “Levanta-se o pano e começa o teatro!”