por Sofia Pereira
Maria Inês Almeida nasceu a 25 de fevereiro de 1978, em Lisboa. Jornalista de formação, pela Universidade Católica Portuguesa, iniciou a sua carreira literária com a publicação de Contos pouco políticos, uma coletânea de histórias escritas por políticos, passando depois a publicar livros infantojuvenis da sua autoria.
A Fábulas entrevistou a escritora. Maria Inês Almeida, muito atenta às manifestações da infância – desde a educação à ocupação dos tempos livres dos mais novos – e aos valores sociais, fala-nos do seu percurso como autora de livros para a infância e juventude, do mundo das crianças e da sua paixão pelo universo das letras e da escrita.
Todos conhecemos a Maria Inês como jornalista, mãe e blogger. Apresente-se como escritora.
Não me considero muito capaz de um autorretrato. É melhor pedirem a alguém que leia os meus livros!
Como foi trocar uma carreira dedicada à área do jornalismo pela literatura?
A vida vai-nos colocando caminhos pela frente e vamos fazendo opções. Mas não sinto que tenha sido uma troca absoluta, de virar costas totalmente ao jornalismo. Fui muito feliz no meu trabalho enquanto jornalista e sou igualmente feliz no meu trabalho como autora de livros infantojuvenis. Sinto-me bem a escrever para os mais novos. As crianças não se esquecem de sonhar, e isso é encantador. Gosto de criar projetos que possam marcar de alguma forma.
Coração de mãe nunca se engana é um livro de amor, é «a história da vida que todos os dias liga uma mãe a um filho». O José é a maior inspiração da sua vida?
Vamos sempre buscar inspiração a muitos lados. Procurando estar atenta às coisas e aos sinais que a realidade transmite, as ideias surgem naturalmente. Mas, sim, é verdade que encontro no meu filho uma grande fonte de inspiração. Por exemplo, o Quando Eu For… Grande partiu de uma ideia que o José, sem saber, me deu, por andar sempre a perguntar: «Quando eu for grande posso comer todas as pastilhas? Quando eu for grande vou saber onde está a porta da praia?». Para mim, neste projeto que são os livros, tudo se resume mais ao sentir e à intuição.
É inegável a sua paixão pela escrita de livros para crianças. Considera que a maternidade teve influência na escolha do seu registo?
Despertou-me ainda mais para isso, sim.
A Maria Inês escreveu três livros cujo protagonista da história tem o nome do seu filho: José. Podemos ver neles um retrato das suas traquinices e birras próprias da idade?
Não necessariamente. Na história José, come a sopa, este José não gosta de sopa… mas passa a gostar. O meu filho, por exemplo, sempre gostou de sopa (tenho sorte nesse aspeto).
«Um político é um pássaro com muitas cores». Foram estas as palavras genuínas de uma criança que a motivaram a abraçar o projeto Contos pouco políticos. Na sua opinião, é fácil falar sobre política às nossas crianças? Qual considera ser a melhor explicação para leitores tão pequenos?
Quando iniciei esse projeto ainda não era mãe, mas já era atenta às manifestações da infância. Claro que na cabeça desta criança aquele político existiria tal como ela o descrevia. A minha preocupação com esse livro não foi tanto falar de política a crianças, mas sim aproximá-las dos políticos, para lhes mostrar uma faceta diferente, para lá da pose circunspeta, do discurso grave e das roupas cinzentas que estão habituadas a ver pela televisão. Queria que as crianças soubessem que nos políticos, à parte a sua função, pode permanecer uma dimensão de sonho e imaginação.
A aventura admirável de Malala é um livro que relembra, acima de tudo, os direitos das crianças, independentemente da raça, da religião, do sexo ou da origem social. Malala, pela sua coragem e resiliência, é um exemplo que deve estar presente na vida de todos, de modo a evitar que as crianças sejam desrespeitadas e/ou esquecidas?
Sim, e que todos os jovens se sensibilizem para a causa de Malala. Que todas as mulheres usufruam de liberdade e que todas as meninas possam ir à escola. Falar de Malala nos meios de comunicação é normal e importante, mas são coisas que às vezes se esquecem depressa. Haver um livro que também pode chegar a escolas, às famílias, pode ser igualmente determinante. O exemplo de Malala é encorajador para as crianças de todo o mundo.
Sabes que também podes ralhar com os teus pais? é uma história de afeto que ensina as crianças a não serem submissas. Defende a ideia de que, na relação diária com os pais, os filhos devem ter uma atitude assertiva, sem quebrar os laços de amor que os unem. Considera que é no ambiente familiar que se inicia o desenvolvimento das crianças enquanto cidadãos responsáveis, sociais, proativos e altruístas, sendo os pais os alicerces dessa educação, preparando-as para uma melhor vida adulta que as ajude a superar as adversidades e frustrações?
Nos livros Sabes que também podes ralhar com os teus pais? e Sabes onde é que os teus pais se conheceram?, o objetivo era promover o diálogo entre Pais e Filhos. Foi promover a pergunta. E a resposta. Acho que o futuro depende da maneira como formamos e educamos os nossos filhos, e por isso faço votos para que todos os que temos essa responsabilidade não nos esqueçamos disso. O primeiro livro corresponde a uma tentativa de levar as crianças a perceberem que têm direito a dizer do que gostam e do que não gostam. É até uma forma de crescer na responsabilidade. Mas é evidente que há modos de dizer as coisas.
Sabes onde é que os teus pais se conheceram? e Quando eu for… Grande são dois títulos que figuraram na lista «100 livros para o futuro», apresentada por Portugal como convidado de honra na Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha, em 2012. Como encarou esse reconhecimento?
Sabe sempre bem. Mas o trabalho continua.
Amália Rodrigues, Almeida Garrett, Michael Jackson, Amélia Rey Colaço e Almada Negreiros fazem parte da coleção juvenil de biografias «Chamo-me…». Por que razão escolheu estas figuras da História? Há alguma biografia que ainda queira escrever?
São figuras interessantíssimas, cada uma à sua maneira. Merecem que, acerca delas, se transmita às crianças informação e conhecimento. Há sempre muitas figuras interessantes.
Em criança, sonhava ser alguma personagem literária?
Que me lembre, não.
Em parceria com Joaquim Vieira, é autora da coleção juvenil «Duarte e Maria», que já conta com seis volumes. Como surgiu este projeto?
O ponto de partida foi a nossa amizade. Depois de descobrirmos que, por coincidência, ambos tínhamos escrito biografias sobre as mesmas figuras (Almada Negreiros, Amália Rodrigues, por exemplo), o Joaquim para gente crescida, eu para jovens, achámos que valia a pena tentarmos um projeto comum de escrita. E assim nasceu a coleção «Duarte e Marta», proposta que a Porto Editora aceitou publicar. No ano passado, durante cinco semanas, um resumo do primeiro número da coleção foi oferecido com o Happy Meal da Mc Donald’s, o que nos deixou muito satisfeitos.
Conte-nos uma situação vivida num encontro com os pequenos leitores e tenha sido particularmente especial.
Todas as idas às escolas são especiais. Desde as histórias que eles também contam às perguntas que colocam ou até aos maravilhosos trabalhos que fazem e oferecem sobre os livros que leram.
Por que razão as crianças devem ler os seus livros?
As crianças só devem ler os meus livros se lhes apetecer. Mas a minha esperança é que com eles sintam que viajam e que sonham.
Onde e quando é que gosta mais de escrever?
Em casa, sossegada. De manhã.
Sabemos que todos os escritores têm os seus autores de referência. Têm também livros que, num momento da vida, voltam a reler ou permanecem na mesinha de cabeceira. Quais são os seus?
Uma pilha deles.
Podemos esperar a publicação de um novo livro para breve?
Sim. Mas não gosto de falar de novas edições antes do tempo.
Mais informações sobre a escritora aqui e aqui.
adoro esta escritora