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Antes de dormir a Mãe e o Tiago leram… «Avozinha Gângster»

…durante várias semanas, a mãe e o Tiago leram a Avozinha Gângster, de David Walliams (Porto Editora).

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por Andreia Rasga

Mais de 250 páginas, percorridas com igual entusiasmo por mãe e filho, juntinhos na cama enfrentando o frio destes dias.

Pelo meio, rimos muito, gargalhadas sonoras que deixaram piadas cúmplices que encaixamos, agora, de vez em quando, nas coisas do dia-a-dia. Entre elas está o cheiro a couve.

Mas comecemos pelo princípio, dando a palavra ao Tiago para apresentar o livro: «A avozinha é uma ladra de joias! O neto, o Ben, tem onze anos e vive na casa dos pais, mas às sextas-feiras fica com a avó, porque os pais vão sempre ver um programa de dança, a coisa que eles mais gostam de fazer. O menino não se diverte nada com a avó, porque ela só gosta de jogar Scrabble e também gosta muito de sopa de couve e ele detesta. Até que um dia, o Ben passa a adorar estar com a avó quando descobre que ela é uma ladra famosa! O grande objetivo de avó e neto passa a ser roubar as joias da coroa na Torre de Londres, então preparam um plano para irem até lá… O resto, bem não podemos contar o que vai acontecer».

A forma delirante como o Tiago tem descoberto cada capítulo do livro é igualzinha à minha! Para o meu filho-leitor esta história é ideal para crianças a partir dos oito anos, mas a verdade é que ela é um êxito que atravessa gerações e tem conquistado o mundo, contando já com mais de 4 milhões de exemplares vendidos. O autor de origem britânica, mais conhecido enquanto ator de comédia, famoso pela série Little Britain, estreou-se na literatura com esta história divertida, sem deixar de ser emocionalmente forte, mostrando-nos um lado da velhice que nem sempre queremos ver.

Ao longo dos capítulos o texto é acompanhado pelas ilustrações a traço preto, de Tony Ross. Os desenhos conseguem ser tão extasiantes como a história. Só para aguçar a curiosidade, eu e o Tiago recomendamos as páginas dedicadas aos vários fatos originais que a mãe do Ben desenhou propositadamente para a estreia do filho enquanto dançarino.

À laia de sugestão diz o Tiago:

«Recomendo este livro porque é giro e eu acho que vocês vão gostar muito do final… e do princípio».

Eu também acho. Garantidos ficam desde já o final surpreendente e o rol de gargalhadas vibrantes.

As escolhas de Natal de… Andreia Rasga

Oferecer livros, a gente de qualquer idade, é dar muito mais do que um conjunto de folhas de papel protegidas por uma capa. É dar a oportunidade de inventar, de ir longe, de viver mais, de saber outras e diferentes coisas.

Assim, estas são as minhas sugestões natalícias:

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O Meu nome é…, de Rita Correia, Edição de Autor

«Um livro/mapa, que esconde várias pistas durante a caminhada (leitura e imagem), onde alguns chegarão à solução mais rápido do que outros, mas todos terão vontade de repetir o percurso, mesmo depois do verdadeiro “nome tesouro” ter sido descoberto.»

A autora e ilustradora Rita Correia oferece-nos um livro que é também um enigma. Página a página somos convidados a viajar por um mundo pintado em tons de verde, recolhendo as nove letras que compõem a misteriosa palavra que completa o título.

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Charlie e a Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl, Civilização Editora

«Charlie Bucket adora chocolate. E o Sr. Willy Wonka, o mais prodigioso inventor do mundo, vai abrir as portas da sua maravilhosa fábrica de chocolate a cinco crianças sortudas. É o melhor prémio do mundo!  Rebuçados cintilantes, gulodices sinuosas e um rio de chocolate derretido esperam por eles. Se Charlie conseguir um Bilhete Dourado, estas guloseimas deliciosas podem ser todas suas.»

Escrito em 1964, este clássico de Roald Dahl reúne todos os ingredientes para se tornar um vício: personagens bizarras, momentos hilariantes, desfechos inesperados e a busca de um menino por um sonho. Um livro intemporal e obrigatório!

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Toda a Mafalda, de Quino, Verbo

A contestatária Mafaldinha de Quino tem atravessado gerações sem perder força, convicção e pertinência… tudo aliado a boas risadas. A nova edição da Verbo comemora os 50 anos da personagem e traz alguns extras: artigos de opinião e informação que ajuda a contextualizar a personagem e os acontecimentos históricos que a Argentina e o Mundo atravessaram na época. Contudo, as tiras da Mafalda e amigos encaixam na perfeição neste tempo e em qualquer ponto do mundo.

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Herberto, de Lara Hawthorne, Bruaá

Para mim este livro é a grande edição de 2014 na área infantil. Na verdade, ele atravessa idades, sexos, formações e informações, para falar de algo tão simples e negligenciado: como todos nós temos um talento só nosso e como ele pode ser revelado quando menos esperamos. Um livro tão bonito, por dentro e por fora, que nos guia, acompanhados pela lesma Herberto, por um jardim de luz e esperança. A guardar na mesa-de-cabeceira, por gente pequena e adulta, para abrir nos dias mais incertos, quando falha quase tudo.

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Esta é a sugestão do Tiago:

Greve, de Catarina Sobral, Orfeu Negro

Justifica o Tiago: «porque o livro é muito giro e fala sobre os vários pontos que existem no mundo. Como por exemplo, os pontos cardeais, pontos de exclamação, de interrogação, finais, pontos de vista… Assim vocês vão descobrir como é que chegámos a este ponto».

Antes de dormir a Mãe e o Tiago leram…

A minha professora é um monstro, de Peter Brown.
por Andreia Rasga

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O Tiago reconheceu o livro logo que entrámos na livraria, porque um amigo da escola já lhe tinha falado sobre ele. Pegou nele e pediu-o insistentemente. Mãe que é mãe e que adora livros não resiste a tal pedido e, assim, a leitura daquela noite estava decidida.

Todas as noites a Mãe e o Tiago leem juntos antes de dormir. Agora que começa a ficar frio, embrulhamo-nos no edredão azul, cada um na sua almofada, e disputamos à vez quem muda a página. O combinado é «meio-meio»: eu leio um capítulo e o Tiago lê outro ou, nos livros com pouco texto, eu leio uma página e o Tiago lê outra.

Naquela noite, a Mãe demorou uns minutos a chegar ao seu lugar na cama do Tiago e, quando pegou no livro para começar a leitura, ele disse a rir: «Já o li todo uma vez!».

Então, agora era eu. Enquanto eu lia, o Tiago chamava-me a atenção para os pormenores: «Vê Mãe, a professora Lurdes aqui é um monstro verde, mas mais para a frente já é uma senhora simpática… e vê bem o fim!».

Na história a Dona Lurdes é uma professora irritadiça que não permite aviões de papel na sala de aula e que grita, todos os dias, com o Frederico. Os problemas do Frederico têm um nome: Dona Lurdes! No entanto, a história muda de cenário e a Dona Lurdes muda de figura quando aluno e professora se encontram fora da escola, no parque. Aí o Frederico é o salvador do chapéu preferido da sua professora e juntos admiram a paisagem do sítio que o menino mais gosta em todo o parque. A grande surpresa acontece aí mesmo, quando é a própria Dona Lurdes a propor ao Frederico para, dali de cima, fazerem voar um avião de papel!

Segundo o que o Tiago me disse, no final da leitura, ele gostou do livro «porque todos nós temos uma professora que é um monstro». Eu fiquei muito admirada com tal remate. Até porque a professora do Tiago tem muito pouco de monstruoso, mas o meu rapaz explicou-me melhor: «Esta história quer-nos dizer que as professoras podem ser um bocadinho refilonas nas aulas, mas são queridas».

Aí a coisa fez mais sentido para mim e o Tiago resumiu tudo: «Este livro é muito bom para nós lermos porque fala de um menino que não gostava muito da professora. Depois, ao conhecer a professora melhor noutro sítio sem ser nas aulas, ele começou a gostar mais dela e a entendê-la, percebendo que ela só queria o melhor para ele e para todos os outros meninos».

De 1 a 5, o Tiago deu 5 estrelas ao livro daquela noite. Não pensem que ele é um rapaz exagerado ou que os seus 9 anos de idade lhe dão pouco sentido crítico, no que diz respeito a leituras. Aguardem até à próxima história e verão.

Sobre a autora:

Andreia Rasga é editora de livros das mais diversas temáticas e para todas as faixas etárias. Licenciou-se em Comunicação Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Desde muito jovem trabalhou em vários órgãos de imprensa e rádio. É ainda autora e formadora do Workshop «Fazer um Livro. Da Ideia ao Papel» e «Escrevi um livro. Da gaveta à publicação». Mais informações em www.facebook.com/FAZERUMLIVRO.