Tag Archives: Censura

A Semana dos Livros Banidos

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Na semana passada decorreu mais uma Semana dos Livros Banidos, nos EUA, uma iniciativa que acontece todos os anos com o objetivo de chamar a atenção para a prática de retirada de livros das bibliotecas escolares, impedindo as crianças e os jovens de terem acesso livre a determinadas obras. Trata-se de censura que acontece tanto por parte de professores, como das próprias associações de pais, apesar das campanhas pela liberdade de escolha de leituras.

Uma escola no Texas não se deixou intimidar e nessa mesma semana baniu mais algumas obras da sua biblioteca, incluindo A Culpa É das Estrelas, de John Green, após vários pais terem apresentado queixa de que o livro era demasiado obsceno para ser lido por crianças.

O jornal The Guardian escreve que um dos pais terá dito a um jornal local que não se tratava de banir os livros da biblioteca, que não concordava com isso, mas retirar das listas de leituras obrigatórias livros inapropriados para jovens por apresentarem conteúdo considerado obsceno. No entanto, a escola acabou por decidir retirar essas obras da sua biblioteca para evitar mais protestos de pais. Essas obras serão reavaliadas por todos os envolvidos neste processo.

O artigo completo pode ser lido aqui.

 

A literatura infantil e a censura

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Em Histórias em Verso para Meninos Perversos, de Roald Dahl, o autor escreve: «Pensam vocês que sabem esta história? / Mas a que têm na vossa memória / É só uma versão falsificada, / Rosada, tonta e açucarada / Feita para as crianças inocentes / Não terem medo, / Ficarem contentes.» É com estes versos que Elisa Corona inicia a sua tese Niños, niggers, muggles… Sobre literatura infantil y censura. Na introdução, a autora relembra alguns dos livros para crianças mais censurados, como As Aventuras de Huckleberry Finn, Charlie e a Fábrica de Chocolate e Harry Potter, que Joseph Ratzinger, antes de se tornar Papa Bento XVI, condenou por a seu ver «minar a cristandade». Elisa Corona explora os mecanismos de censura nos casos particulares daqueles livros e os diferentes contextos que levam a que certas histórias sejam alvo de atenção por parte dos «salvadores de consciências». O livro pode ser lido na íntegra aqui.

Biblioteca Nacional de Singapura retira livros infantis LGBT

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O comité da Biblioteca Nacional da Singapura anunciou recentemente que irá retirar das suas prateleiras três livros infantis. A decisão está relacionada com o facto de esses livros contarem histórias de famílias constituídas por casais homossexuais. Na Singapura são proibidas relações entre pessoas do mesmo sexo.
Uma das obras censuradas, And Tango Makes Three, foi inspirada na história real de dois pinguins machos que criaram juntos uma cria no Zoo do Central Park, em Nova Iorque. O segundo livro intitula-se The White Swan Express: A Story About Adoption, que conta a história de um casal de lésbicas em processo de decisão de adotar uma criança. O último livro que a Biblioteca anunciou retirar é Who’s In My Family: All About Our Families, em que são mostrados os diferentes tipos de famílias não tradicionais que podem existir.
Mal se soube da decisão, os ativistas pelos direitos dos homossexuais manifestaram o seu descontentamento por esta atitude. Kirpal Sing, professor de literatura inglesa na Universidade de Singapura declarou ao jornal Times que a decisão de retirar os livros representava um «infeliz retrocesso».

O artigo completo pode ser lido aqui.

«Os pais preocupam-se de mais com o que os filhos leem»

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Esta é uma afirmação proferida por Judy Blum, autora americana best-seller de livros para jovens, com mais de oitenta milhões de exemplares vendidos. Numa reportagem do jornal The Telegraph, a escritora diz ainda que todas as crianças possuem um «censor interno» que as levará a evitar ler aquilo que as fizer sentirem-se desconfortáveis.

Judy Blum chegou a ver alguns dos seus livros serem banidos das bibliotecas, nos anos 1980, por abordarem temas considerados chocantes, relacionados com o sexo na adolescência, o racismo, o divórcio e o bullying, por exemplo.

Quando conversa com os seus jovens leitores, a autora diz sempre: «Vão e leiam à vontade. Leiam aquilo de que gostarem.»

É sempre polémica a questão sobre aquilo que os pais devem evitar ou não que as crianças leiam. Preocupação de mais ou de menos nunca é, de modo nenhum, benéfico para ninguém. É sobretudo o bom-senso que deve guiar pais e educadores, tendo em conta a idade da criança ou do jovem, as suas habilitações, a sua personalidade. Contudo, é frequente esse bom-senso ser contaminado pelos seus próprios medos e preconceitos, acabando os pais por não deixarem os filhos defrontarem-se com leituras que poderão ser mais desafiantes, tanto no que diz respeito à linguagem, como ao conteúdo.

É preciso é que os pais ou educadores estejam atentos e disponíveis para conversarem com as suas crianças sobre aquilo elas leem. Seja aquilo que for.

 

Tintin (des)contextualizado

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Há muitos livros para crianças que embora se tenham tornado clássicos intemporais, não o são sem uma aura de polémica à volta. Num artigo intitulado Putting Tintin into Historical Perspective, um livreiro conta como se debate com pedidos de pais e educadores que chegam à livraria e pedem para deixar de vender certos livros por serem ofensivos, racistas, elitistas, etc. Um desses livros era o Tintin no Congo por considerarem que advogava valores colonialistas. Apesar de efetivamente o livreiro concordar com os receios desses pais de que certos livros não serão apropriados para crianças por conterem valores que no nosso contexto atual são condenáveis, o livreiro acredita que não se deve retirá-los das prateleiras, evitando a sua leitura, mas que, pelo contrário, se deve dá-los a ler, tendo em atenção a sua perspetiva histórica. O papel do livreiro não deve ser, portanto, o de censor, mas antes o de promotor do pensamento crítico, do debate.
Muitos críticos consideram também que os livros da autora britânica Enid Blyton são elitistas, sexistas e xenófobos e, no entanto, continuam a vender, e em Portugal, estão sempre no top infantil dos livros mais vendidos.  Os livros para crianças da escritora portuguesa Odette de Saint-Maurice, escritos e publicados durante a ditatura, também são criticados por no seu âmago promoverem os valores do regime.
É por isso grande o risco de as crianças que leem estes livros sem qualquer tipo de orientação, serem depois incapazes de terem sobre eles uma visão crítica e de discernirem o que é realmente certo e errado nessas histórias, e de isso influenciar a maneira como lidam com o mundo real.
O importante, parece-me, é que estes livros sejam lidos, sim, com a devida contextualização, para que dessa forma, como refere o artigo, se possa ajudar a expandir mentalidades e não a encerrá-las. Impedir a leitura desses livros, em vez de reconhecer a falibilidade das ideias presentes nos seus enredos, com vista a um maior entendimento, é um erro. Tendo contacto com essas obras, os jovens aprenderão que existem diferentes visões do mundo e que estas vão evoluindo nos diferentes momentos da nossa História, influenciando, em consequência, a produção cultural da época, nomeadamente a literária.

 

Politicamente (in)correto…

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Imagem daqui.

A preocupação com aquilo que é politicamente correto ou incorreto num livro para crianças chega por vezes a roçar o exagero. Um dos exemplos mais recentes é a polémica que se gerou à volta do livro Tous à poil!, de Marc Daniau e Claire Franek, um livro que mostra como são os corpos das pessoas por baixo das suas roupas, independentemente de profissão, raça, condição social, retirando-lhes não só o vestuário, mas os preconceitos. Mais sobre esta história aqui.
A censura começa, porém, muitas vezes dentro das próprias editoras, muito preocupadas em ferir susceptibilidades. Compreende-se a questão em certas situações, mas noutras a linha a partir da qual se considera que o politicamente (in)correto foi ultrapassado começa a ficar demasiado turva. Na Inglaterra, uma editora chamou a atenção de uma autora de livros infantis, Lindsey Gardiner, para o facto de ter no seu livro a ilustração de um dragão a deitar fogo da boca. A editora receava ser alvo de um processo por causa das normas de segurança, dado que uma criança que lesse aquele livro podia querer depois fingir ser um dragão e, na brincadeira, usar o fogo para interpretar a personagem. Outras alterações que a editora quis fazer foram tirar um rapaz de cima de um escadote e mudar a cor de um fogão elétrico ligado de vermelho para verde.  A autora chama a atenção para este tipo de atitudes que subestima a inteligência das crianças. E na verdade estas decisões não parecem ser tomadas com vista a proteger as crianças, mais parecem existir para proteger as editoras de serem processadas. Tudo sobre este caso no sítio da Publishing Perspectives.

A respeito da censura nos livros juvenis

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Nem a propósito de um artigo que escrevi sobre a censura na literatura juvenil nas escolas e nas bibliotecas dos EUA, parece que em França grupos de extrema-direita, e até o Secretário-geral do Partido UMP, a segunda maior força política no país, estão a fazer pressão para que certos livros infantis e juvenis sejam censurados. Jean-François Copé fez destaque num programa de televisão a um livro em particular, Tous à poil! (numa tradução livre Todos se despem), de Claire Franek e Marc Daniau, e que considera inapropriado e desrespeita figuras de autoridade aos olhos das crianças. No livro infantil ilustrado, várias pessoas, desde o professor, a babysitter, os vizinhos, se despem para tomar banho no mar. O objetivo deste livro, segundo os autores, era o de familiarizar as crianças com diferentes tipos de corpos em situações naturais. O artigo que relata este caso refere ainda que em França tem crescido o número de grupos de extrema-direita que têm feito listas de livros que consideram imorais e que têm solicitado a respetiva retirada de circulação de livrarias e bibliotecas.
Isto é, sem dúvida nenhuma, preocupante!
Parece, no entanto, que a polémica fez com que as vendas do livro Tous à poil! disparassem, chegando mesmo ao primeiro lugar dos livros mais vendidos da Amazon francesa. A notícia completa pode ser lida aqui.

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Censura na literatura juvenil

Nos EUA, cada escola define a sua lista de livros aprovados para leitura. Isto quer dizer que cada livro é avaliado, escrutinado e aprovado ou não por pessoas responsáveis por essa tarefa. Pode-se dizer que no processo de criação da lista, os livros passam pela censura. E há livros que são censurados. Os critérios de avaliação costumam estar relacionados com religião, droga e sexo. Há escolas e bibliotecas americanas que baniram por exemplo a série Harry Potter das suas listas de leitura por estarem associados à bruxaria. Os livros de Mark Twain também já foram banidos ou tiveram acesso restrito em algumas bibliotecas.  A American Library Association até promove um evento todos os anos, a Banned Books Week, para celebrar a liberdade de ler e tentar acabar com esta censura que acontece um pouco por todo o país. E isto não acontecerá apenas nos Estados Unidos, com certeza. 
É sem dúvida um tema importante e que merece uma reflexão profunda, porque muitas vezes a censura não é óbvia e passa despercebida. É claro que é preciso fazer sempre uma avaliação daqueles livros mais apropriados para certas faixas etárias, mas bani-los das prateleiras das escolas e das bibliotecas é inaceitável. Cá em Portugal, atualmente, não me parece que aconteça qualquer tipo de censura a esse nível, tendo em conta a nossa História. Se bem que, mais do que uma vez me aconteceu a editora pedir-me para trocar a palavra «rabo» por «traseiro» nos meus livros juvenis!!

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