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O velho e o mar – do livro aos filmes

por Ana Ramalhete

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O livro     

O velho e o mar, último livro publicado em vida por Ernest Hemingway, é uma narrativa literária de complexa classificação. Para uns, um conto, para outros, uma novela, para Jorge de Sena, um «breve poema em prosa, uma epopeia de simples trama, singelamente narrada» (Cf. Prefácio De Jorge de Sena in O velho e o mar, Edição Livros do Brasil, Lisboa, 1956 ).

O livro narra a história de um velho pescador, Santiago, que está a atravessar uma fase de pouca sorte na pesca, pois não apanhou nenhum peixe durante oitenta e quatro dias seguidos. Santiago tem um grande amigo, Manolin, um rapaz a quem ensinou a pescar, que foi seu companheiro de barco até os pais o proibirem de voltar para o mar com o velho. Este regressa à faina, sozinho, e enceta uma luta de vida e de morte para capturar um peixe enorme. Passa quatro dias em alto mar até conseguir capturar «o seu irmão peixe». Quando se sente triunfante, é atacado por tubarões que comem o peixe deixando apenas a carcaça. Santiago regressa derrotado e exausto, deita-se e dorme (ou estará moribundo?).

Da novela, publicada em 1952, fizeram-se duas adaptações para cinema e uma para televisão. O primeiro filme, realizado em 1958, dirigido por John Sturges e com interpretação de Spencer Tracy, durava oitenta e seis minutos. O telefilme foi realizado em 1990 por Jud Taylor, com a duração de noventa e dois minutos e o filme curto de animação foi produzido em 1999 por Alexander Petrov e tem vinte minutos. O primeiro não se encontra à venda e na internet está disponível, apenas, um vídeo de quatro minutos. Os outros dois podem ser visualizados, na totalidade, na internet.

O telefilme e o filme de animação  

O velho e o mar – filme para televisão, e O velho e o mar – filme de animação, são dois textos fílmicos criados a partir de um texto verbal: uma obra literária. Trata-se de dois exemplos de transcodificação intersemiótica em que é notória a interpretação de cada um, traduzida na apropriação distinta dos códigos dos diferentes sistemas semióticos.

Existe, no entanto, uma grande distinção entre os dois. No primeiro há a transposição de um texto literário para um texto audiovisual, concretamente um filme para televisão. No segundo essa transposição é feita em dois momentos distintos: do texto literário para o texto pictórico e em seguida, do texto pictórico para o texto audiovisual.

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Alexander Petrov executou pinturas em placas de vidro, feitas com os dedos e com pincéis e transpô-las para vinte e nove mil fotogramas. A transformação da situação inicial deu-se, assim, em dois suportes diferentes, cada um com os seus códigos próprios. Os signos verbais do livro foram transformados em signos materiais das pinturas que por sua vez foram transformados num texto hibrido, com imagem, som e música: do texto literário para o texto pictórico e em seguida, do texto pictórico para o texto audiovisual.

As imagens do filme de animação possuem uma grande qualidade estética e uma forte sensibilidade inerente. Poderiam não existir diálogos que o sentido da história seria apreendido da mesma forma. A própria utilização das cores transmite a mensagem desejada. A sucessão dos dias e das noites é dada pela paleta de tons escolhidos para o nascer e o pôr-do-sol. Os azuis do mar e do céu, não só se referem ao espaço físico, ou às condições meteorológicas, como também nos deixam perceber o estado psicológico das personagens. As cores vivas do final transmitem uma sensação de esperança no futuro, protagonizada na juventude do rapaz que corre.

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O resultado desta junção de signos diferentes materializou-se numa obra de arte onde «o signo mágico seduz e encanta» (Umberto Eco in A definição da arte). A intertextualidade é sempre intrínseca ao texto audiovisual, neste caso, é-o duplamente, pois o resultado final é um texto criado a partir de outro texto que por sua vez já foi criado a partir de outro texto.

As imagens do filme para televisão têm um cunho mais realista, onde a intensidade dramática é fortalecida através das aproximações da câmara e dos grandes planos.

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Apesar de ter apenas vinte minutos, o filme curto funciona como uma síntese da obra de Ernest Hemingway. Há um reconhecimento imediato desta por parte do espectador. No telefilme esse reconhecimento não é tão imediato e é interrompido pelas cenas e personagens introduzidas e não existentes no livro. Estas cenas pretendem, provavelmente, criar uma atenção acrescida e oferecer uma pluralidade de enunciados narrativos, com o objectivo de prender o telespectador ao aparelho.

No telefilme, a música funciona como um acompanhamento da imagem e da palavra escrita. É viva e dinâmica quando as cenas o são, é dramática e sentimental quando a situação o requere. É, toda ela, executada por uma orquestra. No filme de Petrov, a música é produzida com instrumentos, vozes, sons de animais: gaivotas, elefantes, leões, pássaros e sons do mar, dos remos a rasgar a água. Toda esta sonoridade contribui para criar um ambiente lírico e poético.

Os dois filmes representam uma recriação da obra inicial, distinta desta, que reflecte um outro olhar, uma outra leitura, mas que perpetua a sua dimensão existencial, filosófica e humana.

O filme de animação encontra-se aqui. O telefilme (The old man and the sea, de Jud Taylor) aqui.

Título: O Velho e o Mar
Autor: Ernest Hemingway
Tradução e Prefácio: Jorge de Sena
Editora: Livros do Brasil

 

A origem secreta do Ursinho Pooh

Winnie-the-Pooh, ou Ursinho Pooh, como é por cá conhecido, é uma personagem incontornável do mundo Disney, com a sua cor amarela e a T-shirt vermelha e um apetite muito grande por mel.

As origens do Ursinho Pooh, porém, são literárias e recuam algumas décadas antes de a Disney ter realizado os primeiros desenhos-animados, tão conhecidos hoje.

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A personagem foi pois inventada por um escritor chamado A.A. Milne. A inspiração veio de um urso de peluche que pertencia ao filho, Christopher Robin Milne. Foi aliás o seu próprio filho que serviu de base para a personagem do menino, amigo de Pooh, o Christopher Robin. O nome, Winnie-the-Pooh, foi retirado de dois sítios diferentes – Winnie era o nome de um urso preto americano do jardim zoológico que pai e filho costumavam visitar, e Pooh, era um cisne de um lago que também visitavam com regularidade.

O primeiro livro em que Pooh aparece pela primeira vez foi lançado em 1924, com o título When We Were Very Young. O primeiro a tê-lo como protagonista foi Winnie-the-Pooh, publicado dois anos depois, com ilustrações de E. H. Shepard.

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O sucesso foi de tal forma grande que em 1930, um senhor chamado Stephen Slesinger, comprou a Milne os direitos para cinema e comercialização. Quase dois anos depois, Pooh já era um negócio de 50 milhões de dólares.

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O primeiro filme animado do Ursinho Pooh, produzido pela Disney, estreou no cinema em 1977, lançando a imagem da personagem como ela é conhecida hoje.

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Em Portugal, podemos encontrar o livro de A.A. Milne nas livrarias, com o título Puff e os Seus Amigos, publicado pela editora Relógio D’Água, com ilustrações do autor.

Civilização lança coleção «Vício dos Livros»

Os clássicos da literatura são daqueles livros indispensáveis na estante de uma casa que se quer de leitores, sobretudo de bons leitores. Certamente a pensar nisso, a Civilização Editora lança uma nova coleção que «reúne um conjunto selecionado de obras de alguns dos autores mais consagrados da literatura mundial, de Tolstoi a Twain e Jack London.»

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Os primeiros quatro títulos lançados em novembro são A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, Anne dos Cabelos Ruivos, de Lucy Maud Montgomery, As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain, e O Apelo da Selva, de Jack London.

Com um design moderno e apelativo, que atrairá os leitores adolescentes, as capas apresentam tons escuros, com elementos que remetem para cada um dos títulos.

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Para 2015 já está prevista a publicação de As Aventuras de Huckleberry Finn, Ivan, O ToloMulherzinhasRobin dos BosquesMiguel, o Aprendiz de SapateiroAs Minas de Salomão (tradução e adaptação de Eça de Queirós) e O Príncipe e o Pobre.

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