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Politicamente (in)correto…

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Imagem daqui.

A preocupação com aquilo que é politicamente correto ou incorreto num livro para crianças chega por vezes a roçar o exagero. Um dos exemplos mais recentes é a polémica que se gerou à volta do livro Tous à poil!, de Marc Daniau e Claire Franek, um livro que mostra como são os corpos das pessoas por baixo das suas roupas, independentemente de profissão, raça, condição social, retirando-lhes não só o vestuário, mas os preconceitos. Mais sobre esta história aqui.
A censura começa, porém, muitas vezes dentro das próprias editoras, muito preocupadas em ferir susceptibilidades. Compreende-se a questão em certas situações, mas noutras a linha a partir da qual se considera que o politicamente (in)correto foi ultrapassado começa a ficar demasiado turva. Na Inglaterra, uma editora chamou a atenção de uma autora de livros infantis, Lindsey Gardiner, para o facto de ter no seu livro a ilustração de um dragão a deitar fogo da boca. A editora receava ser alvo de um processo por causa das normas de segurança, dado que uma criança que lesse aquele livro podia querer depois fingir ser um dragão e, na brincadeira, usar o fogo para interpretar a personagem. Outras alterações que a editora quis fazer foram tirar um rapaz de cima de um escadote e mudar a cor de um fogão elétrico ligado de vermelho para verde.  A autora chama a atenção para este tipo de atitudes que subestima a inteligência das crianças. E na verdade estas decisões não parecem ser tomadas com vista a proteger as crianças, mais parecem existir para proteger as editoras de serem processadas. Tudo sobre este caso no sítio da Publishing Perspectives.

«Alice no País das Maravilhas» e a matemática

Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido como Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, era, além de escritor, professor de matemática e de lógica. Talvez por isso gostava muito de jogar com as palavras, com a lógica e de incorporar na sua escrita alguns enigmas matemáticos. A certa altura, em Alice no País das Maravilhas, Alice faz contas de multiplicar que não parecem fazer qualquer sentido, como 4×5 é igual a 12 ou que 4×6 dá 13. Na verdade, Carroll estava a jogar com conceitos matemáticos relacionados com expoentes (algo indecifrável para mim). O autor também brinca com a lógica, como por exemplo no episódio em que o Gato Cheshire desaparece quase totalmente no ar, menos o seu sorriso, e Alice comenta já ter visto muitos gatos sem sorriso, mas nunca um sorriso sem um gato (numa tradução mais ou menos livre). Algumas das situações ridículas contadas na história não passam de referências e jogos de palavras, por vezes tão sofisticados que passam despercebidos aos leitores (como eu).
Durante toda a história, Alice depara frequentemente com puzzles e problemas de resolução impossível e que a deixam por de mais frustrada. Carroll achava as histórias da sua época demasiado moralistas e simplistas, pelo que considerava importante demonstrar às crianças que, tal como na vida real, nem todos os problemas tinham uma resposta lógica ou sequer um significado. É interessante verificar que uma história para crianças possa ter tantas leituras, em níveis tão diferentes.

Deixo algumas análises interessantes a Alice aqui, aqui e aqui.

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O meu exemplar das obras de Lewis Carroll, numa edição da Barnes & Noble.

Lewis Carroll detestava a fama de «Alice no País das Maravilhas»

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Conta o The Telegraph que o autor Lewis Carroll não gostava de ter ficado tão famoso com o seu livro «Alice no País das Maravilhas» e suas continuações. Já se sabia que o autor tinha aversão às atenções dos leitores e da imprensa, e que era muito reservado, tanto que escolheu um pseudónimo para publicar os seus livros na esperança de que a sua verdadeira identidade (o seu nome verdadeiro era Charles Dodgson), permanecesse no anonimato, salvaguardando a sua privacidade. No entanto, numa carta escrita para um amigo e que data de 1891, Lewis revela como detestava quando as pessoas descobriam a sua identidade e o abordavam na rua. Por outro lado, ele gostava de enviar livros autografados para algumas das crianças que conhecia.
A carta vai agora ser leiloada juntamente com uma fotografia tirada pelo autor.
A notícia do The Telegraph encontra-se aqui.

Censura na literatura juvenil

Nos EUA, cada escola define a sua lista de livros aprovados para leitura. Isto quer dizer que cada livro é avaliado, escrutinado e aprovado ou não por pessoas responsáveis por essa tarefa. Pode-se dizer que no processo de criação da lista, os livros passam pela censura. E há livros que são censurados. Os critérios de avaliação costumam estar relacionados com religião, droga e sexo. Há escolas e bibliotecas americanas que baniram por exemplo a série Harry Potter das suas listas de leitura por estarem associados à bruxaria. Os livros de Mark Twain também já foram banidos ou tiveram acesso restrito em algumas bibliotecas.  A American Library Association até promove um evento todos os anos, a Banned Books Week, para celebrar a liberdade de ler e tentar acabar com esta censura que acontece um pouco por todo o país. E isto não acontecerá apenas nos Estados Unidos, com certeza. 
É sem dúvida um tema importante e que merece uma reflexão profunda, porque muitas vezes a censura não é óbvia e passa despercebida. É claro que é preciso fazer sempre uma avaliação daqueles livros mais apropriados para certas faixas etárias, mas bani-los das prateleiras das escolas e das bibliotecas é inaceitável. Cá em Portugal, atualmente, não me parece que aconteça qualquer tipo de censura a esse nível, tendo em conta a nossa História. Se bem que, mais do que uma vez me aconteceu a editora pedir-me para trocar a palavra «rabo» por «traseiro» nos meus livros juvenis!!

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«The Flying Pig Bookstore», Vermont, EUA

Há um blogue que sigo com regularidade, pertencente à revista Publishers Weekly, e que se chama Shelftalker, administrado por Elizabeth Bluemle e Josie Leavitt, donas de uma livraria infantil e juvenil, em Vermont, um Estado que fica ao lado do Estado de Nova Iorque, no Norte dos EUA. A livraria chama-se The Flying Pig Bookstore e está instalada numa casa singela na localidade de Shelburne. No blogue, as livreiras vão comentando o dia-a-dia na livraria, as dificuldades de ter uma livraria independente, as curiosidades que vão descobrindo, as pequenas surpresas com que os clientes lhes brindam a rotina, e muitas outras coisas. Por curiosidade, fui procurar fotografias da livraria para contextualizar alguns dos episódios que elas contam e que deixo já aqui para vocês verem. Deixo também uma ligação para um texto que conta um de muitos episódios que fazem com que os dias destas livreiras sejam muito melhores e que mostram como o seu trabalho é importante – para ler ir aqui.

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A doutora dos livros

Na secção de livros do sítio do jornal The Guardian, existe uma rubrica chamada «The Book Doctor», gerida pela editora de livros infantis e juvenis do jornal, e a quem os leitores, miúdos e graúdos, podem colocar questões, como se de um espaço médico se tratasse, como aquelas colunas que por vezes se encontram em revistas. Ali encontra-se o mais variado tipo de perguntas desde se os livros ajudam de facto as crianças pequenas a distinguir o que é real do que é imaginário, ou se há mais para os leitores adolescentes além de histórias de vampiros e de lobisomens. As suas respostas são bastante interessantes e elucidativas.

Para saber mais, espreitar aqui.

 

«Mary Poppins», o livro

Admito que até há bem pouco tempo não sabia que o filme Mary Poppins, de 1964, com Julie Andrews, bem como a peça musical da Broadway, eram adaptações de um livro. Descobri quando saiu o trailer do filme Saving Mr. Banks, a estrear brevemente, e que conta a história de como Walt Disney, interpretado por Tom Hanks, convenceu a autora P.L. Travers, interpretada por Emma Thompson, a deixá-lo adaptar a sua obra para o cinema.

Ao todo foram publicados não um, mas oito livros de Mary Poppins. A autora chamava-se Pamela Lyndon Travers, nasceu na Austrália, em 1899, mas viveu praticamente toda a sua vida na Inglaterra, onde faleceu em 1996. Era não só escritora, mas também atriz e jornalista. Uma trivialidade – Travers era uma grande admiradora de J.M. Barrie e o primeiro editor dos seus livros foi precisamente Peter Llewelyn Davies, filho adotivo de Barrie e que se diz ter sido o modelo para a criação de Peter Pan.

Parece que a autora, infelizmente, não gostou da versão cinematográfica do seu livro, e que apesar de ter exigido a Walt Disney que fizesse alterações, ele recusou. Por esse motivo, Travers nunca mais permitiu que a Disney fizesse qualquer adaptação dos seus restantes livros.

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