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Leitores diversos, livros diversos

Portugal é um país que recebe, que acolhe, que se compõe de habitantes de diversas origens e de uma multiplicidade cultural que enriquece a nossa própria cultura portuguesa. Hoje, mais do que nunca, é importante preservar essa diversidade e transmiti-la às nossas crianças e aos nossos jovens para que sejam tolerantes e para que exista respeito, curiosidade, troca entre todos, seja de que raça, religião ou de que condição forem, com deficiências mentais ou físicas. Se temos leitores diversos, queremos leituras diversas, porque assim todos terão possibilidade de se sentirem identificados. Nesse espírito, deixamos uma lista de títulos de livros publicados por cá que refletem a diversidade de vozes existentes. As sugestões vão do infantil ao juvenil e ao jovem adulto.

Infantil

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Tanto, tanto!, de Trish Cooke, Editora Gatafunho

Livro recomendado para Educação Pré-Escolar, destinado a leitura em voz alta. Todos querem o bebé ao colo, todos o querem abraçar e apertar contra o peito, todos lhe querem dar tantos beijos e tantos mimos e tanta atenção, todos o adoram, toda a família o ama… TANTO, ANTO, TANTO ANTO! Um livro divertido e cheio de amor, sobre uma família que se reúne para fazer uma festa surpresa. Tanto, Tanto! venceu o Smarties Book Prize para a categoria 0-5 anos de idade, o She/WH Smiths’s Under-Fives Book Prize e o Kurt Maschler Award. Além disso, recebeu uma menção honrosa no Kate Greenaway Medal, e foi nomeado para o Sheffield Children’s Book Award e para o Nottinghamshire Children’s Book Award.

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A Surpresa de Handa, de Eileen Browne, Editorial Caminho

A Handa mete no cesto sete frutas deliciosas para fazer uma surpresa à sua amiga Akeyo. Mas no caminho a Handa passa por muitos animais, e as frutas têm um ar muito convidativo… Quando chega junto da amiga e poisa o cesto, quem tem uma grande surpresa é a Handa!

Juvenil

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Emigrantes, de Shaun Tan, Kalandraka

Livro Recomendado pelo Plano Nacional de Leitura – 3.º Ciclo – Apoio a projetos de História Universal. Esta premiada novela gráfica é uma magistral homenagem a todos aqueles que empreenderam uma viagem, obrigados pela necessidade, e cheios de medos, nostalgias e ilusões.

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Os Rapazes do Lixo, de Andy Mulligan, Editorial Presença

Num país do terceiro mundo, num futuro não muito distante, três rapazes tentam sobreviver nas montanhas de lixo nos subúrbios de uma metrópole. Num dia de sorte e azar, Raphael encontra algo muito especial e misterioso. Tão misterioso que decide guardar, mesmo que a polícia da cidade ofereça uma bela recompensa pela sua devolução. Essa decisão traz terríveis consequências, e em breve os rapazes do lixo vão ter de usar toda a sua astúcia e coragem para escapar aos seus perseguidores.

Jovem Adulto

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Persépolis, de Marjane Satrapi, Contraponto

Com esta memória inteligente, divertida e comovente de uma rapariga que cresce no Irão durante a Revolução Islâmica, Marjane Satrapi consegue transmitir uma mensagem universal de liberdade e tolerância. Persépolisdesenha um retrato inesquecível do dia-a-dia no Irão, as desconcertantes contradições entre a vida familiar liberal e a repressiva vida pública com um regime pedagógico que atentam contra toda liberdade individual. Intensamente pessoal, profundamente político e totalmente original,Persépolis é ao mesmo tempo uma autobiografia e um chamamento perturbador sobre o custo humano da guerra e da repressão política.

Transformar o medo em palavras e em atos de coragem

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por Catarina Araújo

A Gailivro tem uma coleção chamada «O mundo à minha volta», que reúne histórias de autores portugueses sobre os mais variados temas, desde a segurança ferroviária, à tolerância, à descriminação, e à importância de se ter bons hábitos alimentares. Uma questão de azul-escuro, de Margarida Fonseca Santos e ilustrado por Sandra Serra, aborda o tema do bullying.

O livro lê-se de um trago e é perfeito para leitura em conjunto entre pais e filhos. Também pode ser lido em situação de sala de aula de primeiro ciclo, mas só se for num contexto de grande proximidade, em que as crianças estejam à vontade, sentadas em almofadas no chão e a professora ou educadora no meio delas, pois é um assunto delicado que requer bastante tato, sensibilidade e, claro, bom senso.

A história passa-se numa aula de Educação Física em que, depois do exercício, a professora Susana sugere a todos os alunos que tirem a roupa em excesso, pois está muito calor. Luís usa um fato de treino demasiado quente para a época e mesmo assim recusa-se a tirá-lo. A professora estranha aquela atitude e tenta ajudá-lo, mas logo percebe que qualquer coisa se passa. Acha-o triste e com medo. Quando lhe tira a camisola verifica porquê: Luís tem manchas azuis escuras nos braços. Nódoas negras, frescas, bem recentes.

Em vez de o encher de perguntas como se de um interrogatório se tratasse, a professora Susana convida-o a sentar-se à sombra, calmamente, enquanto as outras crianças são encaminhadas para as aulas.

Num ambiente sossegado, com muita paciência e atenção, a professora conta a Luís uma história com que ele se identifica e isso ajuda-o a contar por sua vez à professora o que lhe aconteceu, como fez aquelas nódoas negras. Ficamos pois a saber que Luís foi vítima de bullying. Uns rapazes mais velhos agrediram-no na rua com violência.

A professora Susana envolve depois os pais e os colegas da turma na conversa, com a ajuda de um agende da Escola Segura. É nessa conversa, na sala de aula, que a professora se apercebe de que há mais crianças a serem vítimas dos jovens que agrediram Luís. O importante é o diálogo que se desenvolve, apesar do medo de represálias. Os adultos asseguram um ambiente estável, respondem às dúvidas, confortam-nos dizendo-lhes que é perfeitamente normal tudo aquilo que sentem. Aproveitam também para despertar nelas a consciência social. Ao ser-lhes dada a oportunidade de pensarem e de debaterem umas com as outras, as crianças chegam a uma conclusão: é necessário denunciar a violência para que não aconteça o mesmo a outras pessoas. A professora desafia-as a encontrar soluções para se prevenir aquele tipo de situações. Juntos pensam em frases para um folheto a ser distribuído na escola.

Uma maneira muito construtiva de abordar este tema tão difícil como complexo. É um livro que pode ajudar adultos e crianças a lidarem com este tipo de casos, estejam eles no lugar das vítimas ou no das testemunhas.

Seria interessante pensar também num livro sobre o agressor para esta coleção da Gailivro. Porque a maior parte das vezes os agressores, aqueles que praticam o bullying, também são vítimas de violência, física e/ou psicológica, e a sua vilificação não permite talvez que recebam a ajuda de que precisam para se reabilitarem. A questão é por certo complicada, mas seria uma maneira de expor os dois lados da história, pois nem tudo é preto e branco, e as crianças também devem aprender isso.

Outros títulos da coleção:
A Melhor Condutora do Mundo, de António Mota
O Meu Amigo Zeca Tum-Tum, de José Fanha
A Árvore dos Rebuçados, de Rosário Alçada Araújo
Querer, Ser, Ter, Poder, Dever: O Que Fazer?, Ana Nobre de Gusmão
A Pior Amiga, Fernando Carvalho

«Brown Girl Dreaming» vence National Book Award

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Brown Girl Dreaming, de Jacqueline Woodson, venceu ontem o National Book Award, na categoria de Young People’s Literature. Trata-se de um livro de poesia em que a autora relata a sua infância, primeiro na Carolina do Sul e depois em Nova Iorque, partilhando as suas vivências como afro-americana a crescer nos anos 60 e 70, à medida que toma consciência do movimento pelos direitos civis dos negros.

(c) Nancy Crampton
(c) Nancy Crampton

Ursula K. Le Guin foi ainda distinguida com o Medal for Distinguished Contribution to American Letters, entregue em mãos por Neil Gaiman.

Mais sobre estes prémios aqui.

Prémio NSK Neustadt de Literatura Infantil entregue a Meshack Asare

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O prémio é patrocinado pelo World Literature Today e pela Universidade de Oklahoma e pretende distinguir escritores cujas obras contribuam para  «a qualidade de vida» das crianças. Nesta primeira edição o autor galardoado foi Meshack Asare, originário do Gana e atualmente a residir na Alemanha, considerado um dos autores de literatura infantil mais influentes do continente africano. Robert Con Davis-Undiano, diretor-executivo da World Literature Today explica a escolha: «Meshack Asare é um autor de literatura infantil muito importante, lido por toda a África. As suas histórias refletem sobre valores humanos fundamentais e todos os leitores poderão identificar-se com o seu trabalho. Estou muito feliz por o Prémio NSK Neustadt de Literatura Infantil permitir apresentá-lo ao resto do mundo.»

Mais sobre o prémio e o autor aqui.

Via Blogtailors.

Apelo de uma leitora que pede mais personagens com deficiências

(c) Emily Drabble. Megan com a autora  Malorie Blackman.
(c) Emily Drabble. Megan com a autora Malorie Blackman.

A leitura ajuda a formar, a desenvolver, a entreter, tão essencial para o desenvolvimento como comer bem, fazer exercício, ir à escola, brincar. Deste modo, tenta-se fomentar o gosto pela leitura encontrando histórias com que os pequenos leitores se possam identificar. O problema é quando essas histórias não existem. O problema é quando essas crianças sofrem de algum tipo de deficiência física ou mental, e tudo o que encontram são histórias de heróis ou heroínas atléticas. Num artigo escrito para o jornal The Guardian, Megan, uma leitora americana confinada a uma cadeira de rodas, faz um apelo para que os escritores introduzam mais personagens com deficiências ou com necessidades especiais nos seus livros de ficção, que se «atrevam» a ter como protagonistas heróis ou heroínas amputadas ou com dificuldades motoras, refletindo nas histórias a diversidade de crianças existentes no mundo real para que todas tenham oportunidade de se sentirem identificadas com uma personagem que lhes pode dizer muito. Aqui fica o texto reivindicativo desta leitora (em inglês).

Gostaríamos muito de fazer uma lista de livros deste género para recomendar aos nossos leitores, pelo que apelamos a que nos enviem informação sobre livros infantis e juvenis editados em Portugal que conheçam e que contenham personagens com algum tipo de deficiência ou necessidade especial, para o nosso e-mail revistafabulas[arroba]gmail.com. Agradecemos desde já a colaboração.

O projeto «Todos Juntos Podemos Ler»

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O projeto «Todos Juntos Podemos Ler» resulta de uma ação desenvolvida pela Rede de Bibliotecas Escolares, o Plano Nacional de Leitura e a Direção de Serviços da Educação Especial e Apoios Sócio-educativos, para «a criação de bibliotecas inclusivas, capazes de proporcionar oportunidades de leitura para todos os alunos».  Este programa serve para dar resposta a uma população escolar diversa que inclui crianças e jovens com necessidades especiais, de forma a que todos tenham acesso à leitura. As bibliotecas desempenham um papel importante de inclusão no domínio da literacia e da igualdade de oportunidades e é neste sentido que o projeto visa «dotar as bibliotecas escolares de recursos adequados, em diferentes formatos acessíveis aos alunos com necessidades educativas especiais e desenvolver boas práticas de promoção da leitura, tendo em conta as capacidades e necessidades individuais dos alunos».

Mais pormenores sobre este projeto na página oficial aqui.

 

Literatura para adolescentes entre nomeados para National Book Award

Os livros para adolescentes ou «jovens adultos» têm sido alvo de alguma controvérsia por serem cada vez mais lidos por adultos com idades acima dos vinte e trinta anos. A questão em causa terá que ver com a qualidade desses livros e a sua pertinência para uma faixa etária que os críticos consideram que deveria ler obras mais adequadas à sua idade. Polémicas à parte, a verdade é que no meio de uma grande diversidade de histórias, típicas do Young Adult, encontram-se obras de qualidade literária cujo mérito merece ser reconhecido.

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Recentemente foi divulgada a long-list dos nomeados deste ano para o National Book Award, prémios atribuídos pelo National Book Foundation, nos EUA, com o objetivo de celebrar a literatura americana, e entre os livros presentes encontram-se alguns destinados ao público adolescente, como Brown Girl Dreaming, de Jacqueline Woodson, única autora afro-americana nomeada.

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Os temas destes livros são variados, desde a relação de uma filha com o seu pai vítima de stress pós-traumático, em The Impossible Knife of Memory, de Laurie Halse Anderson, à história de um rapaz de origem chinesa adotado por pais brancos, em Greenglass House, de Kate Milford, ou a de outro rapaz que sofre de epilepsia, em 100 Sideways Miles,de Andrew Smith, ou ainda de duas jovens acabadas de se formar através de programas de educação especial e que agora se veem numa situação em que terão de aprender a cuidar de si próprias, em Girls Like Us, de Gail Giles. As personagens são diversas e complexas e as histórias refletem questões com que nos debatemos em sociedade.

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Num artigo do The Guardian, há quem louve esta atitude do júri em incluir literatura para jovens na lista, embora considere que sejam mínimas as hipóteses de qualquer uma das obras passar para a short-list. Ainda assim reconhece que independentemente do seu público-alvo são livros de qualidade e provocadores, com a diversidade que muitas vezes falta neste tipo de prémios.

Via Blogtailors.

Ler «Harry Potter» pode torná-lo uma pessoa melhor

por Catarina Araújo

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Pelo menos é essa a conclusão de um conjunto de estudos levados a cabo na Universidade de Módena e Reggio Emília, em Itália, por uma equipa liderada pela psicóloga Loris Vezzali. A investigadora afirma que a leitura de Harry Potter «melhora atitudes relativamente a grupos estigmatizados como imigrantes, homossexuais e refugiados». Vezzali defende que «livros de fantasia como Harry Potter poderão ajudar educadores e pais a ensinar as crianças a serem mais tolerantes».

Para saber mais sobre este estudo ir aqui e ao artigo da Scientific American, Porque é que toda a gente deveria ler Harry Potter.

Obviamente trata-se apenas de um exemplo. Haverá muitos outros livros infantis e juvenis capazes de veicular valores de respeito e tolerância pelo outro e ajudar as crianças a serem «melhores adultos».

Via io9.

Morreu Walter Dean Myers

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Walter Dean Myers é um autor afro-americano de literatura para a infância e a juventude. Não é conhecido do público leitor português, mas é um autor importante que trabalhou muito pela literacia, pela educação e pela promoção da diversidade na literatura.

Nascido em 1937, no estado da Virgínia, nos EUA, foi criado pela mãe adotiva no Harlem, em Nova Iorque. Sofrendo de um problema de fala, Myers cedo se dedicou à leitura e à escrita, nomeadamente de poesia. Aos dezassete anos foi para o exército. Myers nunca deixou de escrever. Publicou o seu primeiro livro, The Life of a Harlem Man, em 1968, e desde então publicou mais de cem livros, incluindo contos ilustrados e não-ficção. Galardoado com inúmeros prémios de literatura infantil e juvenil, Walter Dean Myers esteve nomeado para o prémio Hans Christian Andersen, em 2010.

Faleceu a 1 de julho e deixa um legado significativo para a literatura infantil e juvenil mundial. Algumas das suas obras mais importantes são Monster, com que ganhou o prémio Michael L. Printz, destinado a obras para jovens adultos, e Lockdown, sobre um adolescente de catorze anos, detido numa casa de correção por roubo e tráfico.

Mais sobre o autor e a sua obra aqui.

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Aprender que todas as crianças são diferentes

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A literatura não é tudo e em certas idades as crianças preferem ler livros de não-ficção ou então livros com histórias sobre factos interessantes, que lhes ensinem algo concreto sobre o seu mundo. Há uma coleção da editora Arteplural que demonstra aos mais jovens que somos todos diferentes, e que cada um enfrenta desafios mais complicados do que outros, mas que podem ser ultrapassados com ajuda, como a dislexia, por exemplo, ou a dificuldade de concentração. Promovendo a compreensão deste tipo de problemas com que diversas crianças se deparam pode ajudar a reduzir o bullying e o isolamento. Além disso, mostra que é possível encontrar o método certo para que essas crianças sejam tão bem-sucedidas como as outras. Com ilustrações apelativas e uma linguagem acessível, esta coleção, intitulada Geniozinhos, da autoria de Barbara Esham, conta já com cinco volumes publicados em Portugal. Para conhecer todos os livros basta ir aqui.