Tag Archives: Hábitos de leitura

Os miúdos querem ler livros que os façam rir

É pelo menos essa a conclusão de um estudo feito pela Scholastic, sobre aquilo que os miúdos entre os seis e os dezassete anos procuram num livro, e cujos resultados revela através de um infográfico. Além do humor, as crianças e os jovens procuram ainda histórias que lhes permitam usar a imaginação e com personagens que sejam aquilo que elas também gostariam de ser. Aqui fica desenho dos resultados.

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Daqui.

 

Afinal o que devem ler os adolescentes?

por Catarina Araújo
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(c) CORDON PRESS

Recentemente o jornal El País lançou uma pergunta que ainda não tinha sido feita e que dá uma nova dimensão ao debate sobre o que devem mesmo os jovens ler:  «¿Deberían los adolescentes leer literatura juvenil?». A questão que se tem colocado nos últimos tempos é se os adultos deveriam ler literatura para adolescentes, mas agora o que se pergunta é se os adolescentes deveriam ler literatura juvenil. Estão naquela idade entre a infância e a idade adulta em que se corre o risco de infantilizá-los demasiado ou de lhes exigir uma maturidade que ainda não têm, pelo que surge a dúvida se deixá-los ler livros juvenis não será manter essa dubitabilidade em vez de os ajudar a «crescer» e a entrar na fase adulta. É um debate legítimo. A resposta, contudo, é simples (mas de maneira nenhuma simplista) – tudo depende do leitor e do livro. Os adolescentes não são todos iguais nem os livros juvenis são todos iguais. Impedir que os jovens leiam aquilo que lhes agrada simplesmente porque os adultos acham que é demasiado infantil para eles pode deixá-los inseguros quanto às suas escolhas e fazer com que deixem de gostar de ler.  Por outro lado, como já foi debatido noutros artigos, uma orientação e um acompanhamento são essenciais, não com o objetivo de estabelecer limites, mas de ajudar a abrir horizontes, a expandir as escolhas, a conhecer outras perspectivas. Há uma diversidade tão grande de livros juvenis que aliam entretenimento com conteúdo relevante que seria redutor avaliá-los apenas por serem destinados às crianças, como se isso significasse automaticamente que essas histórias não têm profundidade capaz de formar e desenvolver o caráter e a intelectualidade de um adolescente. O artigo do El País, embora resvale um pouco para a questão do Young Adult, apresenta diversas perspectivas que interessa explorar. É por aqui.

O que fazer para que os rapazes queiram ler?

por Catarina Araújo

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É a pergunta crítica que muitos pais fazem, sem saberem como convencer os filhos rapazes a pegarem num livro e a lê-lo até ao fim. Há diversos estudos que indicam efetivamente que as raparigas mais facilmente leem um livro do que os rapazes. Contudo, isso não quer dizer que eles não gostem de ler. Apenas que não gostam de ler o mesmo que as raparigas, dado que esses estudos indicam que se por um lado eles se afastam mais da literatura, por outro preferem banda desenhada, não-ficção, e humor, o tipo de livros que tendem a ser subvalorizados.

A pensar nesta problemática Jon Scieszka, autor norte-americano de livros infantis e juvenis, e que já foi Embaixador Nacional da Literatura para a Juventude, nos EUA, fundou a Guys Read (rapazes leem), um programa de literacia para rapazes, com o objetivo de incutir nos jovens a vontade e o gosto de ler, chamando com isso a atenção para a questão com o fim de desenvolver o conceito de leitura para que inclua não só literatura, mas também outro tipo de livros como não-ficção, novelas gráficas, banda desenhada, etc.

Recentemente surgiu uma discussão gerada por outro autor, Jonathan Emmett, sobre a forma como o marketing dos livros é feito e em que alegava que «no Reino Unido os livros ilustrados refletem mais o gosto das raparigas do que dos rapazes» e que isso resulta do facto de haver muito mais mulheres na indústria da edição do que homens. Jon Scieszka admite, numa entrevista dada ao blogue Playing by the book, que «é razoável colocar-se a questão e que talvez essa discrepância de género na indústria influencie os livros que são publicados, adquiridos e premiados nos livros infantis e juvenis». A entrevista completa pode ser lida, clicando na ligação.

No sítio Guys Read encontramos mais informações sobre a missão do autor Jon Scieszka com este programa, bem como ferramentas que poderão ajudar a conquistar os rapazes para a leitura: www.guysread.com.

Quanto ao caso português não será muito diferente, mas explorando os sítios portugueses encontrei alguns títulos que poderão cativar os rapazes. Além dos livros do Geronimo Stilton ou do Diário de Um Banana,  aqui ficam outras sugestões.

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Será que as crianças veem os filmes e leem os livros?

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© 2014 – Lionsgate. Jennifer Lawrence em «The Hunger Games: A Revolta – Parte 1» (2014)

Desde sempre o cinema vai buscar aos livros histórias para contar e as adaptações cinematográficas de livros infantis e juvenis têm sido uma aposta forte de Hollywood, principalmente desde que Harry Potter arrebatou o box-office na primeira década do século XXI. Porém, há quem diga que o cinema afasta as crianças dos livros e que as adaptações roubam leitores às histórias originais. Será verdade? Um estudo realizado nos EUA em que os professores monitorizaram aquilo que os estudantes andavam a ler entre 2009 e 2014, pretende demonstrar que afinal o cinema até atrai leitores e que sempre que se aproxima a estreia da adaptação de uma obra, há um crescimento significativo das vendas desse livro. O estudo dá como exemplos as obras The Maze Runner, de James Dashner, e Hunger Games, de Suzanne Colins, cujas vendas dispararam aquando da saída das suas versões em filme no cinema. Porém, isso não acontece com todos. No caso de The Giver – O Dador de Memórias, de Lois Lowry, e O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald,  não se registaram alterações significativas nas vendas, mas isso terá que ver com o facto de estes livros se encontrarem habitualmente na lista de leituras recomendadas ou obrigatórias das escolas e serem cedidos aos alunos.

Mais pormenores sobre os resultados desta análise podem ser encontrados aqui.

O início da animação nas Bibliotecas Municipais de Lisboa – Parte II

por Ana Ramalhete

(A parte I encontra-se aqui.)

A Biblioteca Municipal de Alvalade

Em 1982, Luísa Fialho transitou da Biblioteca das Galveias para a Biblioteca Municipal de Alvalade, na Rua Teixeira de Pascoaes, para assumir o cargo de coordenadora da biblioteca. Uma das primeiras medidas que concretizou foi a de criar uma secção infantil, até aí inexistente. Aproveitou a zona onde funcionava uma cozinha e transformou-a num espaço dedicado aos mais novos. A partir desse momento, definiu um programa de promoção da leitura, destinado à comunidade envolvente, que incluía a realização de exposições, encontros com escritores, concursos de leitura e escrita, teatros, horas do conto, assim como a criação de um clube de animação da leitura para crianças e jovens.

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A Biblioteca iniciou uma colaboração estreita com a escola primária que ficava mesmo ao lado, levando as crianças a participar em todas as actividades a elas destinadas e contribuindo para o enriquecimento do seu nível cultural. Aos poucos, foi-se tornando um pólo cultural importante no bairro.

Isabel Alçada lembra-se das idas frequentes à Biblioteca de Alvalade, onde fez sessões de animação centradas nos livros escritos em parceria com Ana Maria Magalhães, sobretudo os da colecção Uma Aventura. «Os alunos liam os livros na escola com as professoras e depois a Luísa organizava encontros na biblioteca para eles poderem colocar questões». Algumas actividades nasciam na biblioteca, mas cresciam para fora do seu espaço indo até outros lugares como a Feira do Livro, onde as crianças apresentavam os trabalhos realizados nas aulas sobre os livros que liam.

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O autor Armindo Reis foi colaborador e dinamizador em inúmeras sessões que envolveram muitas crianças das escolas de Lisboa. Considera que «foi muito gratificante e o ambiente magnífico. Houve várias actividades de relevo ligadas à poesia, à literatura para crianças e à tradição oral». Por sua vez, Maria Teresa Maia Gonzalez recorda uma sessão com meninos do 1.º ciclo no Dia da árvore, que «foi muito interessante».

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Os anos noventa foram particularmente profícuos em actividades dinamizadas pela Biblioteca de Alvalade – sozinha ou em conjunto com outras bibliotecas municipais que foram surgindo – desde participações em feiras do livro, acções de sensibilização, encontros com escritores, exposições, dramatizações de contos, concursos, até à edição de publicações.

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Este dinamismo foi acompanhado de uma mudança na atitude do público que passou a reconhecer o valor desempenhado pelas bibliotecas no desenvolvimento da comunidade.

Dos vários projectos realizados, Luísa Fialho destaca o concurso Quem lê mais que tinha como base a leitura domiciliária e envolveu centenas de alunos das escolas primárias, entre os sete e os doze anos. Considera que «foi muito estimulante para a promoção da leitura domiciliária». No âmbito do trabalho com os alunos do secundário, salienta o concurso Jovens escritores, «cujo júri era composto por Jacinto Lucas Pires, Pedro Cordeiro, Sofia Ester e outros autores» assim como o projecto Eça em Lisboa, comemorativo do centenário de Eça de Queirós, que levou alunos, de mais de três dezenas de escolas, a percorrerem as ruas de Lisboa à descoberta do autor.

Armindo Reis realça o projecto Muitos mundos, uma só língua, de 1994, no âmbito das Comemorações de Lisboa Capital Europeia da Cultura, com uma semana inteira preenchida com actividades ligadas às várias comunidades da língua portuguesa. «Trabalhei nesse projecto com Vanda de Freitas e Luísa Fialho. Todas as bibliotecas municipais de Lisboa colaboraram, juntamente com turmas de várias escolas de Lisboa onde estavam incluídos vários grupos étnicos. A apresentação final realizou-se em Maio e Junho de 1994. De 20 de Maio a 12 de Junho houve apresentações no Pavilhão da Divisão das Bibliotecas da CML na Feira do Livro de Lisboa: contos e danças tradicionais das várias Comunidades de Língua Portuguesa, dramatizações de contos e recitais de poesia. Nas Bibliotecas Municipais, em Maio e Junho, foram expostos os trabalhos magníficos realizados pelas escolas nesse âmbito. No Palácio Galveias foi também lançada uma antologia (Antologia de contos e lendas da língua portuguesa) com contos e lendas das várias Comunidades de Língua Portuguesa (desde Portugal a Timor-Leste). Os textos foram seleccionados por mim e por Beatriz Weigert. Houve muita [adesão] por parte do público e as crianças deram o seu máximo. Foi, sem dúvida, um projecto de grande dinamização e com o maior sucesso.»

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Com a organização de todas estas iniciativas ligadas ao livro e à leitura, a Biblioteca Municipal das Galveias e a Biblioteca Municipal de Alvalade deram os primeiros passos na animação infantil, nas bibliotecas de Lisboa, abrindo caminho a uma prática que, hoje em dia, faz parte integrante do programa educativo de qualquer biblioteca do país. Como afirmam Maria Luísa Serrão Fialho e Manuela Matos Correia: «A introdução da animação nas bibliotecas municipais representou um passo significativo no papel que as bibliotecas desempenham na sociedade, nas transformações que têm vindo a sofrer e no desenvolvimento cultural das crianças, jovens e adultos» (Maria Luísa Serrão Fialho e Manuela Matos Correia, A animação nas bibliotecas municipais de Lisboa, uma reflexão sobre a mudança in biblioteca – revista das Bibliotecas municipais de Lisboa, 5e 6, p121).

O início da animação nas Bibliotecas Municipais de Lisboa – Parte I

por Ana Ramalhete
A Biblioteca das Galveias

Quando, em 1979, a Biblioteca das Galveias inaugurou uma sala infantil e juvenil, não havia nas bibliotecas municipais de Lisboa qualquer programa de animação destinado às crianças e aos jovens. Existiam apenas acções isoladas e uma atitude passiva: esperava-se que o leitor aparecesse, não se chamava o leitor à biblioteca. A constatação dessa lacuna, aliada ao impulso que a literatura infantil teve, após 1974, e ao desejo de conhecimento e da procura de novos livros, levou à criação de um programa de animação, iniciado com a abertura desse espaço dedicado a um novo público. O pretexto foi o facto de, em 1979, se comemorar o ano internacional da criança e o objectivo, o de criar hábitos de leitura e de fomentar o gosto pelo livro, proporcionando a descoberta da literatura.

As escolas tornaram-se o público-alvo. Iniciaram-se encontros com escritores, sessões de teatro, de fantoches, ateliês de pintura, exposições. Começou a realizar-se a hora do conto, uma actividade que ainda não se fazia nas bibliotecas da capital, e nas restantes bibliotecas nacionais apenas se realizava na Biblioteca Machado de Castro, em Cascais e na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo. Lançaram-se as bases de um projecto de orientação e promoção da literatura infantil, visando um trabalho articulado entre a biblioteca, a escola e a comunidade. Segundo Maria Luísa Fialho e Manuela Matos Correia (as técnicas responsáveis pela introdução da animação nas Galveias): «Na Europa há muito que se fazia animação, que se sentia a necessidade de divulgar a Biblioteca à comunidade e de promover a leitura e a cultura em geral» (Maria Luísa Serrão Fialho e Manuela Matos Correia, A animação nas bibliotecas municipais de Lisboa, uma reflexão sobre a mudança in biblioteca – revista das Bibliotecas municipais de Lisboa, 5e6, p121).

Em Portugal, a ideia de animação era nova e pressupunha a necessidade de introduzir modificações e melhoramentos nas bibliotecas, a par de uma mudança de atitude, da aquisição de novas colecções de livros assim como de mobiliário e equipamentos capazes de tornar a biblioteca num lugar agradável e atraente.

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No entanto, a introdução das sessões de animação não teve logo total aderência e apoio. Houve alguma contestação por parte dos leitores da sala dos adultos e até, de alguns funcionários. As crianças faziam barulho e, nessa altura, imperava o silêncio nas bibliotecas. Por parte dos professores das escolas primárias, também houve alguma resistência inicial pois não queriam afastar-se dos locais de ensino. Não havia a tradição das escolas visitarem a biblioteca, nem de os professores saírem com os alunos. Foi necessário convencê-los de que era útil para as crianças deslocarem-se à biblioteca, contactar com os escritores e com os livros. Aos poucos essa situação foi-se alterando e as escolas passaram a aderir, a participar nas actividades e a fazer exposições dos trabalhos dos alunos na biblioteca.

Na Biblioteca das Galveias estiveram, entre outros, autores como Matilde Rosa Araújo, Sophia de Mello Breyner Andresen, Alice Vieira, Ana Maria Magalhães, Isabel Alçada, Luísa Ducla Soares. Os escritores gostavam de ir às Galveias, em Lisboa era o único local onde havia animação.

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Luísa Ducla Soares recorda-se muito bem dos muitos encontros e sessões realizados na biblioteca: «Recebia frequentemente convites para encontros com crianças das escolas próximas (que para lá se dirigiam a pé), interessadas e cheias de entusiasmo. Realizei a maioria das sessões nas salas do piso térreo, destinadas às crianças mas, com bom tempo, também fomos para o belíssimo jardim das traseiras do palacete que é um local privilegiado. Fiz igualmente sessões no 1.º andar, algumas aproveitando o enquadramento de exposições temporárias, que eram, para os meninos,outras descobertas. Fazer um encontro nas Galveias era uma festa porque parecia que estávamos dentro de um palácio de um conto de fadas e todos os que trabalhavam na secção infantil tinham uma postura encantadora, eram de uma afabilidade extrema, desempenhavam com entusiasmo o seu trabalho».

Maria Teresa Maia Gonzalez lembra-se que a primeira sessão que fez como autora foi nas Galveias e que todas as outras aí realizadas «correram sempre muito bem».

Matilde Rosa Araújo era uma autora assídua na biblioteca e, entusiasmada com o nascimento destes encontros, aconselhou Luísa Fialho a escrever tudo o que ia acontecendo pois era a primeira vez que as escolas e os escritores se juntavam para participar em sessões.

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As actividades de promoção da leitura levaram à biblioteca munícipes que não tinham o hábito de a frequentar e começaram a envolver os animadores socioculturais, os professores, as escolas e os profissionais das bibliotecas, com o objectivo de incentivar a leitura e a descoberta da literatura. Implicaram também um novo fulgor que se prolongou pelos anos seguintes.

(continua na Parte II)

Os livros que lemos na infância ficam para a vida

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Estudos são estudos. Os resultados podem variar, de acordo com os parâmetros usados para realizar esses estudos. Há estudos de tudo e mais alguma coisa, é verdade. Um dos mais recentes é do Facebook e revela «os livros da nossa vida», pelo menos daqueles que utilizam aquela rede social, aparentemente só no Reino Unido, na Índia e nos EUA. Não obstante, já dá para tirar algumas conclusões, como por exemplo que boa parte dos títulos presentes no top 20 são de literatura infantil e juvenil, o que mais uma vez demonstra a importância que tem a leitura quando se é pequeno. Harry Potter ocupa o primeiro lugar e Mataram a Cotovia o segundo das preferências.

A lista completa encontra-se aqui.

Via Observador.

Juvenil e «Jovem Adulto», onde é que um acaba e o outro começa

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Hoje, mais do que nunca, enfrenta-se uma dificuldade que não se verificava há quinze anos, mais ou menos – definir o que é um livro juvenil. Muitos afirmam que tudo começou com Harry Potter. Quando os adultos começaram a ler Harry Potter. Os primeiros dois, três volumes, não há dúvida de que são juvenis, mas os seguintes, aqueles que acompanham a adolescência de Harry e os amigos, esses já podem ser colocados noutra secção.  Mas qual?

A explosão na diversidade de histórias que se deu a partir de Harry Potter causou uma certa confusão nas livrarias, principalmente com o lançamento da saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer, e posteriormente da série Jogos da Fome, de Suzanne Collins. De repente, estes livros já não eram só para crianças, ou só para adolescentes, também os adultos ou jovens adultos se aventuravam na leitura destes livros, por vezes com mais fervor do que o público-alvo para o qual estavam destinados, à partida.

Crepúsculo não será para crianças, será mais para adolescentes, e a trilogia Jogos da Fome  é provavelmente demasiado violenta para miúdos de dez anos. Assim tornou-se necessário estratificar o juvenil em diferentes faixas. Estas faixas dividem-se agora frequentemente entre os 9-12, que os anglo-saxónicos apelidam de tweens;13-17, a adolescência plena, ou até entre os 17-20, categorizado como Young Adult ou «Jovem Adulto», embora aqui as idades possam ser variáveis, dependendo da história, da linguagem, do conteúdo. O próprio Young Adult já sofreu uma estratificação com o surgimento do New Adult, para histórias com conteúdo sexual mais explícito.

Então como é que se decide quando um livro é juvenil ou para jovens adultos? Um dos fatores decisórios estará na idade da personagem principal da história. Quantos anos tem? Dez, doze, quinze, dezassete? O segundo fator poderá ser o do «ponto de vista». O livro está escrito na terceira pessoa? Na primeira? Os livros destinados aos adolescentes e jovens adultos tendem a adotar o ponto de vista da personagem ou personagens principais, e apresentar-se na primeira pessoa, enquanto que para os mais pequenos o autor costuma optar pelo uso da terceira pessoa.  A linguagem e o vocabulário utilizados são outros fatores a ter em conta, assim como o assunto e a complexidade «interior» da história. Nos livros juvenis, as personagens tendem a ser mais reativas, enquanto que naqueles livros destinados aos adolescentes, o protagonista tende a questionar mais o statu quo e a desafiá-lo, num constante balanço entre conflito interior, ação e reação.

O debate não se encerra certamente nestes possíveis fatores, na tentativa de criar uma linha que ajude a distinguir o juvenil do Young Adult. De qualquer forma, tratam-se de meras categorizações. O mais importante – parece-me – é o próprio leitor. As leituras não serem definidas tanto pela idade de quem lê, mas antes pelo seu ser como indivíduo, com as suas experiências, as suas capacidades, as suas forças e as suas fragilidades.

Fica a reflexão.

 

Sobre a importância de ler contos de fadas

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«The love-gift of a fairy tale.», escreveu Lewis Carrol – «O presente de amor de um conto de fadas».

Philip Pullman, autor da trilogia juvenil His Dark Materials (Mundos Paralelos, editada na coleção Estrela do Mar, da Editorial Presença), escreveu um pequeno ensaio sobre a importância da leitura de contos de fadas na infância.

No seu texto, o autor debruça-se sobre uma questão – se os contos de fadas fomentam nas crianças o interesse pela ciência ou se pelo contrário têm um efeito perverso sobre o modo como se crê na magia e na fantasia, afetando a perceção da realidade.

Pullman refere um livro em particular de Richard Dawkins, intitulado The Magic of Reality, em que Dawkins se propõe explicar vários mitos através da ciência e mostrar como isso é tão mais interessante do que a magia. Apesar de considerar o livro uma boa introdução à ciência, Pullman defende que não se pode requerer uma «prova científica de tudo aquilo em que acreditamos, porque não só isso é impossível, como também, em muitos casos, desnecessário ou inapropriado.»

«Existirão modelos relativamente objetivos que nos permitam estudar a experiência pela qual uma criança passa quando lê uma história?», pergunta Philip Pullman.  O autor descobriu que sim e nas suas pesquisas fez algumas descobertas interessantes, como por exemplo que a leitura em voz alta promove uma aquisição mais rápida e mais variada da linguagem por parte das crianças. No entanto, o que ele estava interessado em saber era concretamente em relação aos contos de fadas. Philip Pullman refere que estes podem desempenhar um papel na capacidade da criança em estabelecer um sistema de crenças que lhe permita identificar valores morais, distinguir a fantasia da realidade, estimular a criatividade e promover o pensamento crítico, qualidades importantes para o estudo científico. A leitura de contos de fadas não impede as crianças de perceberem o mundo em que vivem, antes poderá fornecer-lhes ferramentas para lidarem com ele. O autor acredita que a leitura na infância funciona tal como as brincadeiras, como quando se finge ter um amigo imaginário ou se desempenha um papel num jogo. Tudo isso contribui para a aprendizagem, a experiência da vida.

Parece-me evidente que os contos de fadas, a fantasia e a ficção-científica, por exemplo, têm desempenhado um papel importante na progressão científica.  Obras como as de Júlio Verne, Isaac Asimov ou mesmo Mary Shelley, têm inspirado crianças e jovens a enveredarem mais tarde em carreiras ligadas às ciências nas mais diversas áreas de investigação, resultando em inúmeras descobertas importantes para a Humanidade.

É, contudo, uma questão legítima, merecedora de um debate justo. O ensaio completo de Philip Pullman pode ser lido aqui.

 

A polémica à volta dos adultos que leem «Young Adult»

 

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O debate não é recente, mas agora a discussão aqueceu entre aqueles que defendem que os adultos não deviam ler literatura para jovens, por se tratar de má literatura ou por não ser adequada àquela faixa etária, e aqueles que advogam o contrário.

No artigo Against YA, Ruth Graham afirma que os adultos «deviam sentir vergonha» por lerem livros destinados às crianças, e que por isso deviam dedicar-se à leitura de «ficção literária séria».

A autora do artigo refere alguns números, como por exemplo que mais de 50% dos compradores deste tipo de literatura têm idades superiores a 18 anos, e que 28% têm idades entre os 30 e os 44 anos. São números surpreendentes que dão que pensar.

Ruth põe de parte aquela literatura considerada abertamente má, como o Twilight, de Stephenie Meyer, e debruça-se sobre o «realismo contemporâneo YA», promovido pelo mega-sucesso de John Green, A Culpa é das Estrelas. 

Os temas mais explorados neste género de livros têm que ver com a angústia juvenil, o primeiro amor, a primeira relação sexual, o futuro escolar e profissional, assuntos que para os adultos já não terão tanto significado, pelo que se compreende a posição desta articulista.  Dependendo do nível de maturidade dos adultos que leem romances juvenis, muitos não conseguirão evitar «revirar os olhos» a cada página. Então porquê lê-los? Ruth acredita que A Culpa é das Estrelas ou Eleanor & Park são efetivamente boas leituras para adolescentes, mas não para adultos, que retirarão desses livros pouco mais do que «escapismo, gratificação instantânea e nostalgia».

No fim do artigo, a autora chama a atenção para uma declaração da atriz Shailene Woodley, que interpreta o papel de Hazel na adaptação cinematográfica do livro de John Green, para explicar porque é que não vai mais fazer papéis de adolescente (depois de Divergente, suponho): «No ano passado quando fiz o Culpa [é das Estrelas], senti empatia pela adolescência, mas já não sou uma jovem adulta, sou uma mulher.»

A reação ao artigo foi imediata e mereceu uma resposta irónica de uma autora de literatura para jovens, Kathleen Hale, em A Young Adult Author’s Fantastic Crusade to Defend Literature’s Most Maligned Genre. Contudo, não se podem ignorar as questões que Ruth coloca e que justificam o debate. O perigo aqui é limitar-se simplesmente ao ataque de parte a parte e de não se examinar com imparcialidadecada perspetiva.

Entretanto já existe uma lista Anti-Anti-YA, com sugestões de bons livros que podem ser lidos tanto por adolescentes como por adultos, aqui, onde se encontra também o artigo que me chamou a atenção para esta discussão virtual. Recomendo ainda a leitura deste artigo sugerido no texto de Ruth Graham.