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O realismo contemporâneo está na moda

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Quebrada a onda das histórias passadas em futuros distópicos, em que os heróis ou as heroínas combatem o regime imposto, criada pelo mega-sucesso de Os Jogos da Fome, da autora Suzanne Collins, eis que o realismo contemporâneo invade as livrarias. Depois de mais de uma década dedicada à feitiçaria, aos vampiros, aos lobisomens, anjos e futuros pós-apocalípticos,  este ressurgimento como que restaura a glória do género quase desaparecido dos escaparates.

Lá fora a tendência está definitivamente marcada, enquanto em Portugal os autores portugueses nunca chegaram a abandonar o género, como por exemplo, no caso juvenil, a Margarida Fonseca Santos, a Maria João Lopo de Carvalho, etc.

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Como é que isto aconteceu? A «culpa» será de John Green, mas não exclusivamente, com o seu A Culpa é das Estrelas (cuja adaptação ao cinema já anda a estrear pelo mundo), de autores como Rainbow Rowell, com Eleanor & Park, R.J. Palacio, com Wonder, Jandy Nelson, entre outros.

O escapismo que os géneros fantásticos e distópicos proporcionavam, dão lugar agora ao confronto com histórias de heróis que passam por situações semelhantes às dos leitores, que têm de enfrentar obstáculos colocados pela doença, pela sociedade ou por si próprios, mas que no fim  procuram o mesmo que todos os outros – o amor, a liberdade de escolha, de identidade e uma compreensão do mundo no presente.

O Publishers Weekly, publicação dedicada ao setor editorial, tenta encontrar aqui uma explicação para o crescimento do realismo contemporâneo na literatura para adolescentes.

Porque é que os adultos leem literatura YA?

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Imagem daqui.

«Será que se pode ser demasiado velho para ler romances para “Jovens Adultos”?» é a pergunta que John Green, autor de «A Culpa é das Estrelas», coloca e responde num ensaio escrito para a revista Cosmopolitan. Green considera que os adultos não deixam de procurar respostas para perguntas fundamentais a partir do momento em que começam a trabalhar e a constituir as suas famílias. Existirá também contido neste tipo de romances um certo positivismo e uma esperança juvenil de um mundo ainda cheio de segredos por revelar. O autor sente que os temas, até os mais difíceis, são abordados de uma maneira direta e franca que agradará aos leitores adultos.
As respostas possíveis são muitas e variadas, e só cada leitor poderá definir por si exatamente o que retira deste género de literatura, com protagonistas adolescentes em processo de descoberta da realidade.
O artigo de John Green pode ser lido aqui.

15 livros para «Jovens Adultos» fartos de distopias

Na sequência da Feira do Livro de Bolonha, e deste artigo em que refiro o crescimento do interesse dos leitores e naturalmente dos editores pelo realismo contemporâneo, deparei com um artigo num sítio francês em que aconselhavam quinze livros para os leitores jeunes adultes cansados de ler histórias distópicas.
Entre títulos de John Green, recomendam O Estranho Caso do Cão Morto, de Mark Haddon, e que fez grande sucesso há uns anos, editado cá pela Editorial Presença. O protagonista da história, Christopher, tem quinze anos e é autista. Vive perdido no seu próprio mundo até que encontra o cão da sua vizinha morto, com uma forquilha atravessada, e se lança numa investigação para descobrir quem cometeu um ato tão atroz. (Outro livro com um protagonista que sofre de uma forma de autismo é o Marcelo no Mundo Real, sobre o qual já aqui falei neste blogue).  O artigo recomenda um título que infelizmente não está editado em Portugal, o Absolutely True Diary Of A Part-Time Indian, de Sherman Alexie, sobre um jovem índio que deixa a escola da Reserva onde vive para frequentar uma escola só de brancos. Eleanor & Park, de Rainbow Rowell, é outro livro recomendado. Continua com livros de Daniel Handler, Why We Broke Up; de Siobhan Vivian, The List;de Louise Rennison, que tem alguns livros publicados cá pela Editorial Presença na coleção O Clube das Amigas; de RJ Palacio, Wonder, editado pela ASA, com o título Milagre; de Robyn Schneider, Severed Heads, Broken Hearts, sobre um rapaz popular que um dia se vê sentado à mesa dos chamados «losers»; e por fim, de Jay Asher, Por Treze Razões, cuja edição da Editorial Presença se encontra esgotada em Portugal.
Há ainda o The Perks of Being a Wallflower, de Stephen Chbosky, que jurava já ter sido publicado em Portugal, mas não encontro a versão portuguesa. E haverá muitos outros, mas ficam alguns títulos para quem está farto de ler histórias pós-apocalípticas.

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Bolonha 2014, realismo contemporâneo e ficção juvenil em forte crescimento

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Agora que a maior feira internacional do livro infantil e juvenil terminou, as publicações da área fazem a retrospetiva do evento. As primeiras conclusões a que chegaram é que a procura por livros na área do realismo contemporâneo continua em alta e que a compra de direitos de ficção juvenil para crianças entre os oito e os doze anos, o chamado middle-grade, aumentou consideravelmente. A retrospetiva é da revista Publishers Weekly que destaca o facto de o paranormal e o distópico terem perdido força e os editores estarem agora mais virados para as histórias realistas com personagens que incorporam uma forma de anti-heroísmo dos nossos tempos. Por outro lado, embora se note um decréscimo na venda de direitos de livros do género distópico, há um aumento do interesse pelas histórias de tipo futurista, passados num futuro próximo, não muito distante, em que a tecnologia se desenvolveu, mas não num cenário de colapso da sociedade, como acontece em livros como Divergente ou Os Jogos da Fome.
Outra conclusão a que alguns editores chegaram foi que a feira não foi regulada por uma tendência generalizada sobre um tema específico, como noutros anos, mas em vez disso por escolhas mais ao nível de cada linha editorial, de acordo com o mercado de cada país.
A revista The Bookseller também destaca o crescimento da procura de ficção juvenil para crianças entre os oito e os doze anos e os grandes negócios que ainda se fazem na compra de direitos de títulos para jovens adultos (YA), com os valores a atingirem os seis dígitos. As séries perderam alguma força para os livros de um único volume. No final das contas, aquilo que os editores procuram é, sobretudo, boas histórias e personagens fortes.

«Maze Runner» brevemente nos cinemas

As adaptações ao cinema de livros continuam em alta e desta vez é a obra juvenil de James Dashner que estreará na sua versão cinematográfica a 18 de setembro. Editado por cá pela Editorial Presença, a história passa-se num período pós-apocalíptico, num lugar misterioso povoado por um grupo de rapazes adolescentes, ali deixados não se sabe bem porquê. Tudo o que sabem é que para lá dos muros do sítio onde se encontram existe um enorme labirinto cheio de perigos, mas que poderá ser a sua única escapatória. O trailer já anda por aí. Mais sobre os livros aqui.

«The Sky Is Everywhere», de Jandy Nelson

Começo por explicar que li este livro em inglês. Infelizmente não se encontra traduzido em português. Porquê falar dele, então? Trata-se de uma leitura diferente para adolescentes numa altura em que o mercado se encontra saturado de livros dominados pela fantasia e pela ficção científica. Se quiserem experimentar ler em inglês, este livro será um bom desafio. Creio que os adultos que tentarem lê-lo, se não se vestirem de adolescentes por algumas horas e se sintonizarem na mentalidade daqueles anos, não conseguirão terminá-lo. Porque é, de facto, para adolescentes, escrito por um adulto que ainda se recorda de como é ser adolescente, e para um leitor adulto é capaz de ser fastidioso.

Vamos à história – Lennie Walker tem dezassete anos, adora ler, escrever poemas, faz parte de uma banda sinfónica onde toca clarinete e vive na sombra da irmã Bailey, de dezanove anos. Quando Bailey morre, Lennie vê-se subitamente exposta, sem a asa protetora da irmã mais velha, e atirada para o meio do palco da sua própria vida. Envolvida numa dor profunda, Lennie encontra conforto em dois rapazes: Toby, o namorado da irmã, e com quem partilha o luto; e Joey, um rapaz vindo de França, músico talentoso e que a desafia a enfrentar a morte de Bailey. Lennie não consegue pensar noutra coisa se não na falta que sente da irmã e ao mesmo tempo como deseja ser beijada por aqueles dois rapazes, mesmo sabendo que estaria a cometer uma terrível traição se se deixasse cair nos braços do namorado da irmã. As hormonas estão ao rubro e Lennie não sabe muito bem o que fazer com isso. A verdade é que apesar de a avó e de o tio, com quem vive, pois a mãe abandonou-a e à irmã quando elas eram pequenas, tentarem que Lennie desabafe com eles, ela não consegue e sente que só Toby compreende a sua dor. Por outro lado, Joey retira-a do Santuário – nome que chama ao quarto que partilhava com Bailey, e de onde quase não sai – com o seu pestanejar encantador, a sua música, o seu sotaque francês e a sua dedicação.
Todo o livro é como uma ode ao luto pela perda de alguém tão próximo, tão importante, a que se adicionam as atribulações juvenis típicas da idade. Lennie é uma adolescente. Ponto. Por vezes egocêntrica, egoísta, que toma decisões impulsivas, sem medir as consequências dos seus atos. Vive  atormentada pelo abandono da mãe, embora a avó tente aligeirar esse facto com histórias fantásticas acerca dela; a perda da irmã que era para ela como um pilar de segurança; e ainda pelo desejo de obter conforto físico com o rapaz que é o único que espelha a sua dor, mas com quem sabe que não pode ficar.
Quase que se consegue ver o arco de Lennie quando se termina o livro e lemos as conclusões que retira das experiências que viveu nos últimos meses. Às vezes é preciso cometer erros, mesmo sabendo que são erros, para se seguir em frente. As personagens secundárias, como Gram, a avó, Big, o tio, Joey e Toby, e até Sarah, a melhor amiga, estão bem desenvolvidas e ajudam a conferir espessura ao mundo de Lennie.
A escrita de Jandy Nelson é muito peculiar, cheia de metáforas visuais que deslumbrarão alguns leitores, mas que poderão cansar outros. Não será uma leitura fácil para quem não costuma ler em inglês.

«I wish my shadow would get up and walk beside me.»

«I know the expression love bloomed is metaphorical, but in my heart in this moment, there is one badass flower, captured in time-lapse photography, going from bud to wild radiant blossom in ten seconds flat.»

«How will I survive this missing? How do others do it? People die all the time. Every day. Every hour. There are families all over the world staring at beds that are no longer slept in, shoes that are no longer worn. Families that no longer have to buy a particular cereal, a kind of shampoo. There are people everywhere standing in line at the movies, buying curtains, walking dogs, while inside, their hearts are ripping to shreds. For years. For their whole lives. I don’t believe time heals. I don’t want it to. If I heal, doesn’t that mean I’ve accepted the world without her?»

Nota-se que se trata do primeiro livro de um autor. Porém, Jandy amadurece o seu estilo no segundo romance, I’ll Give You The Sun.
Recomendo vivamente!

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Scott Westerfeld publica novo livro «YA» em setembro

Não se trata do primeiro livro de uma nova série, mas de um romance único. Intitula-se Afterworlds, e segue as aventuras de uma jovem autora, Darcy Patel, que se muda para Nova Iorque após assinar um contrato de edição. Em capítulos alternados, vamos seguindo também a história que Darcy escreve, a de Lizzie, que sobrevive a um ataque terrorista ao teletransportar-se para um mundo alternativo, entre a vida e a morte – o Afterworld. Nesse mundo Lizzie vive uma série de aventuras enquanto atua como guia de almas perdidas e fantasmas atormentados.

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Fotografia de Liza Groen Trombi

Noutras notícias relacionadas com as obras do autor, Scott Westerfeld encontra-se atualmente em negociações com uma estação de televisão para transformar a saga Uglies em série de TV. Está também a terminar de escrever um guia sobre como escrever para Jovens Adultos.

Scott Westerfeld é um autor best-seller do New York Times, conhecido pelas sagas Leviatã e Uglies, dirigidos ao público juvenil e jovem adulto, respetivamente. Para saber mais visitem a página oficial: www.scottwesterfeld.com

Editorial Presença publica «Half Bad» de Sally Green

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Há alguns artigos escrevi sobre obras para adolescentes que estavam a ter críticas antecipadas positivas, entre elas o Half Bad de Sally Green. Pois parece que o livro acaba de ser lançado cá em Portugal pela Editorial Presença, praticamente ao mesmo tempo que a edição inglesa. Intitulado Entre o bem e o mal, este livro reinventa a mitologia dos feiticeiros e das bruxas. Aqui fica a sinopse divulgada pela editora:

«Na Inglaterra dos nossos dias, bruxos e humanos vivem aparentemente integrados. Na realidade, os bruxos têm a sua própria sociedade secreta, as suas regras e a sua guerra, que divide os Bruxos Brancos, considerados «bons», e os Bruxos Negros, odiados e perseguidos pelos Brancos. O herói, Nathan, é filho de uma Bruxa Branca e de um Bruxo Negro e, portanto, considerado perigoso. Nathan é constantemente vigiado pelo Conselho dos Bruxos Brancos desde que nasceu e aos 16 anos é encarcerado e treinado para matar. Mas Nathan sabe que tem de fugir antes de completar 17 anos e a sua determinação é inabalável. Este é o romance de estreia de Sally Green e o primeiro volume de uma nova trilogia do género fantástico.»

Tendências no YA

Nos últimos meses tenho reparado no design adotado pelas editoras para os livros destinados aos «Jovens Adultos» ou melhor jovens adultas ou melhor adolescentes. Letras grandes que ocupam quase toda a capa e colocadas de lado para dar torcicolos aos leitores ou talvez para exercitar o pescoço.
Passe esta nota, alguns destes livros, como o The Winner’s Curse e o Half Bad, estão a ter críticas antecipadas muito positivas.
A história de Half Bad, de Sally Green, uma escritora estreante tal como Marie Rutkoski (The Winner’s Curse) e Kasie West (Pivot Point), só por si provocou um buzz estrondoso no meio editorial:  dois dias após a autora ter submetido o seu original para apreciação foi logo aceite por um agente e os direitos para publicação adquiridos por um editor. Nos dias seguintes os direitos foram sendo vendidos para vários países, tendo já a autora alcançado também um acordo para a adaptação da obra ao cinema. O livro sai no dia no dia 3 de março, na Inglaterra.

A história é contada com mais pormenores aqui.
Tudo sobre cada um destes livros aqui, aqui e aqui.

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Os dez melhores de literatura «YA» de 2014

A YALSA (Young Adult Library Association) divulgou recentemente a lista dos dez melhores livros de literatura para Jovens Adultos deste ano, nos EUA. A seleção é variada e algumas das obras têm ganho outros prémios de destaque. Destes dez apenas um se encontra editado em Portugal, o da Ruta Sepetys, intitulado Sonhos de Papel (Out of the Easy no original) e lançado pela ASA. Uma vez que a história se passa na década de 1950, a capa não faz para mim muito sentido no contexto da época, mas enfim… A lista completa pode ser consultada aqui.

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