Começo por explicar que li este livro em inglês. Infelizmente não se encontra traduzido em português. Porquê falar dele, então? Trata-se de uma leitura diferente para adolescentes numa altura em que o mercado se encontra saturado de livros dominados pela fantasia e pela ficção científica. Se quiserem experimentar ler em inglês, este livro será um bom desafio. Creio que os adultos que tentarem lê-lo, se não se vestirem de adolescentes por algumas horas e se sintonizarem na mentalidade daqueles anos, não conseguirão terminá-lo. Porque é, de facto, para adolescentes, escrito por um adulto que ainda se recorda de como é ser adolescente, e para um leitor adulto é capaz de ser fastidioso.
Vamos à história – Lennie Walker tem dezassete anos, adora ler, escrever poemas, faz parte de uma banda sinfónica onde toca clarinete e vive na sombra da irmã Bailey, de dezanove anos. Quando Bailey morre, Lennie vê-se subitamente exposta, sem a asa protetora da irmã mais velha, e atirada para o meio do palco da sua própria vida. Envolvida numa dor profunda, Lennie encontra conforto em dois rapazes: Toby, o namorado da irmã, e com quem partilha o luto; e Joey, um rapaz vindo de França, músico talentoso e que a desafia a enfrentar a morte de Bailey. Lennie não consegue pensar noutra coisa se não na falta que sente da irmã e ao mesmo tempo como deseja ser beijada por aqueles dois rapazes, mesmo sabendo que estaria a cometer uma terrível traição se se deixasse cair nos braços do namorado da irmã. As hormonas estão ao rubro e Lennie não sabe muito bem o que fazer com isso. A verdade é que apesar de a avó e de o tio, com quem vive, pois a mãe abandonou-a e à irmã quando elas eram pequenas, tentarem que Lennie desabafe com eles, ela não consegue e sente que só Toby compreende a sua dor. Por outro lado, Joey retira-a do Santuário – nome que chama ao quarto que partilhava com Bailey, e de onde quase não sai – com o seu pestanejar encantador, a sua música, o seu sotaque francês e a sua dedicação.
Todo o livro é como uma ode ao luto pela perda de alguém tão próximo, tão importante, a que se adicionam as atribulações juvenis típicas da idade. Lennie é uma adolescente. Ponto. Por vezes egocêntrica, egoísta, que toma decisões impulsivas, sem medir as consequências dos seus atos. Vive atormentada pelo abandono da mãe, embora a avó tente aligeirar esse facto com histórias fantásticas acerca dela; a perda da irmã que era para ela como um pilar de segurança; e ainda pelo desejo de obter conforto físico com o rapaz que é o único que espelha a sua dor, mas com quem sabe que não pode ficar.
Quase que se consegue ver o arco de Lennie quando se termina o livro e lemos as conclusões que retira das experiências que viveu nos últimos meses. Às vezes é preciso cometer erros, mesmo sabendo que são erros, para se seguir em frente. As personagens secundárias, como Gram, a avó, Big, o tio, Joey e Toby, e até Sarah, a melhor amiga, estão bem desenvolvidas e ajudam a conferir espessura ao mundo de Lennie.
A escrita de Jandy Nelson é muito peculiar, cheia de metáforas visuais que deslumbrarão alguns leitores, mas que poderão cansar outros. Não será uma leitura fácil para quem não costuma ler em inglês.
«I wish my shadow would get up and walk beside me.»
«I know the expression love bloomed is metaphorical, but in my heart in this moment, there is one badass flower, captured in time-lapse photography, going from bud to wild radiant blossom in ten seconds flat.»
«How will I survive this missing? How do others do it? People die all the time. Every day. Every hour. There are families all over the world staring at beds that are no longer slept in, shoes that are no longer worn. Families that no longer have to buy a particular cereal, a kind of shampoo. There are people everywhere standing in line at the movies, buying curtains, walking dogs, while inside, their hearts are ripping to shreds. For years. For their whole lives. I don’t believe time heals. I don’t want it to. If I heal, doesn’t that mean I’ve accepted the world without her?»
Nota-se que se trata do primeiro livro de um autor. Porém, Jandy amadurece o seu estilo no segundo romance, I’ll Give You The Sun.
Recomendo vivamente!
